Aquele lugar tinha um cheiro estranho e acre, havia um
ventilador no teto que parecia que apesar de rodar não melhorava em nada o
calor que estava ali, passei a mão pela cabeça, pensei em o que mais poderia
ter cheiro acre.
-Próximo.
A atendente falou em tom monótono, voz de quem não gosta do
que faz e está inteiramente cansada. Olhei em seus olhos,eram castanhos, cabelo
cacheado, castanho claro, mascava um chiclete insistentemente na boca, e fazia
tchã tchã tchã tchã , não olhava nos meus olhos com aqueles óculos de aros
redondos e fortes apenas digitava tlec tlec tlec tlec. Perguntava:
-Qual seu nome?
-Frederico.
-Idade?
-31.
Ela levantou os olhos como se me analisa-se, lentamente para
ela, mas muito rápido para qualquer outra pessoa notar , eu notei, apenas eu. Ela
nem percebeu, voltou os olhos para o computador a tela era refletida nos seus
óculos (Quantos graus será que ela tinha?)Sua boa era bem vermelha (e mascava o
chiclete sem parar). Senti uma profusão de cheiros doces vindo dela, ela
emanava eles de forma natural , era gostoso e me fazia sentir num tipo de feira
de doces. Eu adorei isso.
-Situação?
-Como?
-Casado, solteiro, viúvo . . .
-Solteiro.
Vi um sorriso leve começando a se formar na ponta dos lábios,como
se pensasse em, algo comigo, algo além de uma ficha de cadastro. . . Mas o
sorriso foi logo apagado, decerto pelo pensamento da rotina.
-Filhos?
-Não
Ela continuou perguntando, CPF, RG, Título de eleitor,
Carteira do serviço militar, eu tinha passaporte? Não.E aquele cheiro doce me
angustiando, minhas pernas não queriam se mover , vi de leve seus seios, eram grandes
e marcavam a roupa do uniforme branco, ela usava jeans e estava com as pernas
levemente abertas, não olhava para mim.De repente parou de digitar se encostou
na cadeira e falou sem pestanejar me olhando com as mãos paradas na perna:
-Pode esperar que mandaremos a solicitação em breve na sua
casa .Se dentro de 30 dias ela não chegar o Senhor. . .
-Você- Interrompi com um sorriso.
Ela suspirou veementemente e continuou:
-Você, pode voltar aqui e nós veremos o que podemos fazer.
Parou e me olhou com olhos de quem esperava que eu disse-se
algo, eu inebriado por aquele maldito cheiro doce que vinha dela:
-Tudo bem.
Sorri .Ela deu um sorriso de tédio , suspirou se arrumou na
cadeira e disse:
-Próximo.
Eu sai para dar lugar ao próximo, ouvi o tlec tlec tlec dela
ao fundo e as mesmas perguntas até chegar a porta e sair. Meu Deus como ela era
doce!