segunda-feira, 15 de abril de 2013

Fichadoce


Aquele lugar tinha um cheiro estranho e acre, havia um ventilador no teto que parecia que apesar de rodar não melhorava em nada o calor que estava ali, passei a mão pela cabeça, pensei em o que mais poderia ter cheiro acre.
-Próximo.
A atendente falou em tom monótono, voz de quem não gosta do que faz e está inteiramente cansada. Olhei em seus olhos,eram castanhos, cabelo cacheado, castanho claro, mascava um chiclete insistentemente na boca, e fazia tchã tchã tchã tchã , não olhava nos meus olhos com aqueles óculos de aros redondos e fortes apenas digitava tlec tlec tlec tlec. Perguntava:
-Qual seu nome?
-Frederico.
-Idade?
-31.
Ela levantou os olhos como se me analisa-se, lentamente para ela, mas muito rápido para qualquer outra pessoa notar , eu notei, apenas eu. Ela nem percebeu, voltou os olhos para o computador a tela era refletida nos seus óculos (Quantos graus será que ela tinha?)Sua boa era bem vermelha (e mascava o chiclete sem parar). Senti uma profusão de cheiros doces vindo dela, ela emanava eles de forma natural , era gostoso e me fazia sentir num tipo de feira de doces. Eu adorei isso.
-Situação?
-Como?
-Casado, solteiro, viúvo . . .
-Solteiro.
Vi um sorriso leve começando a se formar na ponta dos lábios,como se pensasse em, algo comigo, algo além de uma ficha de cadastro. . . Mas o sorriso foi logo apagado, decerto pelo pensamento da rotina.
-Filhos?
-Não
Ela continuou perguntando, CPF, RG, Título de eleitor, Carteira do serviço militar, eu tinha passaporte? Não.E aquele cheiro doce me angustiando, minhas pernas não queriam se mover , vi de leve seus seios, eram grandes e marcavam a roupa do uniforme branco, ela usava jeans e estava com as pernas levemente abertas, não olhava para mim.De repente parou de digitar se encostou na cadeira e falou sem pestanejar me olhando com as mãos paradas na perna:
-Pode esperar que mandaremos a solicitação em breve na sua casa .Se dentro de 30 dias ela não chegar o Senhor. . .
-Você- Interrompi com um sorriso.
Ela suspirou veementemente e continuou:
-Você, pode voltar aqui e nós veremos o que podemos fazer.
Parou e me olhou com olhos de quem esperava que eu disse-se algo, eu inebriado por aquele maldito cheiro doce que vinha dela:
-Tudo bem.
Sorri .Ela deu um sorriso de tédio , suspirou se arrumou na cadeira e disse:
-Próximo.
Eu sai para dar lugar ao próximo, ouvi o tlec tlec tlec dela ao fundo e as mesmas perguntas até chegar a porta e sair. Meu Deus como ela era doce!