Você irá chegar no portão, irei abrir como sempre faço,
abrir a porta e iremos entrar. Caminharemos até o meu quarto. Eu vou sentar na
cama enquanto você permanece em pé, perto da minha cômoda começaremos, então, nossa
pequena disputa de gênios. Esse maldito jogo que não sei se quero jogar e, por
conta disso, sempre perco.
Você, por ser o campeão, e o mestre de cerimonias desse
pequeno show, lançará a primeira questão com toda sua calma e frieza:
-O que você tem?
Eu aparentando segurança, cruzarei os braços e rapidamente
pensarei numa estratégia para poder pensar melhor em uma resposta. Irei jogar
uma das minhas cartas bônus:
-Como assim?
Você já esperava, sou previsível como jogadora, você sabia
que eu perguntaria isso. Você sempre fica na dúvida se realmente não entendi a
pergunta ou se estou tomando tempo para pensar, tem que ser rápido para
responder pois não pode demonstrar dúvida:
-Não sei, você anda estranha.
Na lata. Direto. Gosto disso, mas sei que na verdade tem
algo por detrás.
-Uai, por quê?
O uai visa demonstrar uma certa descontração e calma que na
verdade não existem, mas minha voz não aparenta. O “por que”, é para ganhar
informações antes de responder e ao mesmo tempo te enrolar. Preciso de tempo.
Você suspira, pensa seriamente se está a hora de jogar com tudo ou se mantem
isso por mais tempo.
-Você está fria, não responde as coisas direito, evasiva!Realmente
parece que você não tem vontade de estar comigo e nem queria que eu viesse aqui
hoje! A hora que parei no portão quase fui embora quando vi a cara que você
estava olhando para mim. Você não quer mais ficar comigo.
Jogou com maestria, agora fico sem muitas opções: ou assumo
que gosto de você, que na verdade estou assim pois estou chateada por que isso
que você pensa de mim eu penso de você, ou assumo a posição de quem realmente
não se importa, essa última significa que posso te perder e encerrar a
discussão naquela hora, como também significa manter a discussão e continuar
com você.
-Claro que quero ficar com você! Senão não estaria
Você rebate:
-Ah não sei, acho q você não quer me magoar...
-Não tenho motivos para não querer te magoar.
Demonstro meu nervoso nessa hora, o medo de te perder
atrapalha tudo, a ideia de que se eu fizer a coisa certa você pode dormir
comigo aquela noite traz uma pressão
muito grande. Você percebe e sabe que se fizer a coisa certa ganha o jogo.
-Palavras, mas não é o que sinto entende?
Sua tática é aumentar o meu nervoso, sabe que não iria
conseguir me controlar, isso seria um erro e não sei jogar bem depois que
cometo o primeiro erro.
-Entendo. Mas você está errado, eu gosto de você! Eu fico
chateada também, eu também tenho sentimentos!
Você conseguiu , me irritei, e explodi, falei o que queria
dizer há muito tempo, fui honesta.
-Você está tentando consertar.
Eu sei o que ele quer, que eu fique insistindo dizendo que
gosto dele demais que não é nada disso...Por outro lado, resta a dúvida, ele
estava estranho então, de fato, pode ser que você realmente esteja na dúvida e
isso significa te perder e também perder essa guerra. Me desespero.
-Não tenho motivo pra consertar
nada. Eu realmente adoro quando você vem para cá, amo sua companhia, adoro
ficar com você!
Você percebeu já que me
desestabilizou, já viu que vai ganhar, resolve brincar mais um pouco.
-Tá, mas esses dias não tem
parecido!
-Como não? Insisti para você
vir me ver hoje, te chamei outro dia, lembrei de você na minha viagem, te mando
mensagem o tempo todo! Como não parece?
-Tá, mas isso não significa
que você queria...enfim.
Eu falo mais umas dez vezes que
gosto dele e sou afim dele, estou com raiva e já desisti do jogo, ele percebe
que ganhou, mais uma vez.
-Okay! Vou para casa, tenho
que estudar.
-Não vai dormir aqui?
-Não prefiro evitar chateações
Sua saída triunfal como
sempre, você pois a cereja no bolo, deu xeque-mate em grande estilo. Eu perdi
novamente e estou sem chão, sei que enquanto não souber jogar isso jamais vou
ganhar, tenho que me esforçar mais, da próxima vez quem sabe...
-Olha fica bem, eu gosto de
ficar com você, gosto de conversar com você. Fica bem mesmo, não vá perder o
sono.
Ali ele encerra o jogo.
-Pode deixar...Que bom, também
gosto.
Abro a porta e depois o portão
e ele sai, mais uma vez vencedor. A mim resta o de sempre: dormir com a minha
derrota ao invés de dormir com ele. Mas ao menos não perdi a guerra.