É, Hannah Arendt, eu acho que te entendo.
Não falo de sua obra prima, sua escrita, sua fala, sobre
política. Falo do que você deve ter passado. Amando alguém que ia completamente
contra o que você era. Não falo de crenças, não falo de coisas que podemos ou
devemos mudar para evoluir como seres humanos. Falo do que somos. Essa complexidade do ser que se compõe de fatores genéticos, criação e escolhas individuais, ou não.
Eu não sou judia. Mas eu sou tão... complicada (seria essa a
palavra?).
Hanna querida, como entramos nessa situação, meu bem? Se o
amor for construção social, se o que sentimos tem solução, como resolver? Como
você fez? O sofrimento leva à além, Hannah?
Tantos nós, tantas questões impossíveis de se resolver,
mesmo que vários livros sejam escritos, mesmo com toda a inteligência do mundo,
com a sua inteligência. E para que? Incapazes que somos ao enfrentar as emoções
e situações que dizem respeito ao coração.
Você não precisava passar por isso. E eu também não. E
várias outras pessoas também não. Mas aqui estamos, passando por situações sem
solução. Podemos deixar de lado o que acreditamos e o que consideramos correto
para ficar com alguém que amamos? Será possível, separar as coisas, o emocional
e o racional, em lugares separados?
Você devia ter falado mais sobre isso nas suas obras querida
Hannah. Nenhum filósofo é capaz de me aconselhar sobre essa dualidade existente
no ser, que sufoca e destrói, lentamente nossos corações e mentes, quando
olhamos para isso. Nem Benjamin, seu amado amigo, pode me ajudar agora.
Você poderia me ajudar com isso como me ajudou a entender questões
filosóficas e políticas?
Já me falaram que penso demais e que talvez fosse melhor
deixar passar algumas coisas, esquecer e viver. Foi o que você fez?
Uma vez, me falaram que as mulheres mais bonitas são as mais
infelizes no amor. Sempre acreditei nisso. Ouso dizer, que, atualmente eu penso
que na verdade, as mulheres que não se encaixam no padrão esperado são as mais
infelizes no amor, e isso, incluí a nós.
Que tristeza Hannah, beberemos solidão depois de termos nos
banqueteado com o amor.