Talvez já fosse bem mais que duas horas da manhã.
Talvez não.
Aquele dia preferiu não olhar o relógio, companheiro a
quem se submetia todos os dias fielmente e, sempre ao olhar que horas estava
indo deitar, calculava quantas horas iria dormir antes de acordar.
Mas aquele dia não poderia fazer isso pois sabia que
não iria dormir tão cedo e olhar as horas passando seria apenas mais uma
tortura que ela infringiria a si mesma.
O dilema que a fazia perder o sono era simples, banal,
otário. Acontecia que ela estava começando a gostar de alguém e descobrirá, da
pior forma possível, que seu novo amor já amava alguém. Sentiu uma dorzinha
incômoda assim que ficou sabendo disso. Não sabia como lidar, nem o que fazer,
ao fim chegou à conclusão que o melhor era deixar de o procurar, “esquecer não
pode ser tão difícil” ela pensou. Porém, quem entende o ser humano? Ele a
procurou, enviou uma mensagem, e, entre o sufoco de não saber o que fazer e a
vontade de responder o moço, o seu sono sumiu. “Mas que ódio, se ele gosta dela
por que me procurar?” e ao pensar nisso reparou que seus quatro anos de estudo
em psicologia haviam sido em vão. Não que ela não soubesse a resposta, só não
queria assumir.
Acabou se decidindo as três horas da manhã e vinte e
cinco minutos: iria responder a mensagem. Escreveu:
Pare de ser
estúpido e mande mensagem para a pessoa certa. Ambos sabemos que essa pessoa
não sou eu.
Sentiu um alívio imenso no peito e dormiu.
Acordou no dia seguinte, não havia mensagem ou
ligações do moço. Talvez ele tivesse entendido o recado e resolvido enviar
mensagem para a pessoa que ele amava ou talvez tivesse encontrado outra pessoa
para tentar a substituir, mas isso já não era mais um problema dela: esquecer
não é difícil.