domingo, 27 de agosto de 2023

Lista.

 -Faz uma lista de coisas novas para eu ouvir?

Esse pedido, todo e inteiramente eriçava minha espinha. Talvez não fosse o pedido.

Talvez, fosse a moça queimada de sol na minha frente, de lindas curvas e olhos cor de mel, que fez minha espinha eriçar.

Talvez fosse o verão. Não era exatamente verão, era aquela época que você sente o verão vindo, o cheiro, as cores e o tempo, tudo muda, tudo começa a esquentar e as coisas parecem mais leves, as pessoas parecem mais bonitas e os pedidos, como esse, se tornam mais indecentes.

Pelo menos na minha cabeça.

Eu imaginei diversas situações onde a mesma pessoa me fazia o mesmo pedido ou um semelhante. E em todas elas não conseguia imaginar nada de bom que viesse depois da minha resposta.

E claro, nós temos o cenário real, o que realmente aconteceu. E, se você leu até aqui, deve imaginar que eu respondi sim, e você, caro leitor, está certo. Não podia negar uma chance dada assim de mão beijada pelo universo para minha cabeça rodar e sair do lugar. Ela sorria tão efusivamente, e, intimamente eu me perguntava :quem sou eu para dizer a ela coisas novas para ouvir?

Entenda: não sou músico, sou escritor. Trabalho com revisão de texto e dissertação. Mas, por algum motivo minha opinião musical era importante para ela. Deve ser o Bob Dylan. Quase sempre é por causa dele.

Ou talvez seja só...Alguma outra coisa inominável nesse texto.

Eu, dei a lista, tal qual pedido. Tiveram piadas, risos e conversas. A mão dela roçando no meu braço, minha espinha arrepiada, o perfume dele, doce, o calor...

Eu sabia, eu soube no momento que ela fez a pergunta que aquele momento não se repetiria, nem com ela nem com ninguém. Eu não a veria mais. Fiquei triste. Gostaria que ela tivesse me feito a pergunta por alguma rede social. Lá a pergunta ficaria para sempre. Se fosse em uma publicação ou em uma mensagem particular. As vezes na publicação causaria inveja e quando muito tempo depois, eu estivesse namorando ou saindo com alguém, e a pessoa pergunta-se “Quem é essa menina?” eu mentiria. Diria que nem lembrava mais, uma qualquer. E a mentira renovaria aquele comentário e só eu saberia que foi importante.

Pessoalmente o único registro é a memória, e ela mente. Eu diria que a moça usava vestido azul, mas talvez ela estivesse de macacão rosa. Mas era bonita e bronzeada, isso é verdade. E queria ouvir o que eu sugerisse, não seria uma forma de intimidade?

Ela foi embora com a lista e todas as minhas fantasias relacionadas a ela. Numa tarde de sol, longe da praia e perto do cinema. E eu nunca mais a vi.