-Faz uma lista de coisas novas para eu ouvir?
Esse pedido, todo e inteiramente eriçava minha espinha. Talvez
não fosse o pedido.
Talvez, fosse a moça queimada de sol na minha frente, de
lindas curvas e olhos cor de mel, que fez minha espinha eriçar.
Talvez fosse o verão. Não era exatamente verão, era aquela
época que você sente o verão vindo, o cheiro, as cores e o tempo, tudo muda,
tudo começa a esquentar e as coisas parecem mais leves, as pessoas parecem mais
bonitas e os pedidos, como esse, se tornam mais indecentes.
Pelo menos na minha cabeça.
Eu imaginei diversas situações onde a mesma pessoa me fazia
o mesmo pedido ou um semelhante. E em todas elas não conseguia imaginar nada de
bom que viesse depois da minha resposta.
E claro, nós temos o cenário real, o que realmente
aconteceu. E, se você leu até aqui, deve imaginar que eu respondi sim, e você,
caro leitor, está certo. Não podia negar uma chance dada assim de mão beijada
pelo universo para minha cabeça rodar e sair do lugar. Ela sorria tão
efusivamente, e, intimamente eu me perguntava :quem sou eu para dizer a ela
coisas novas para ouvir?
Entenda: não sou músico, sou escritor. Trabalho com revisão
de texto e dissertação. Mas, por algum motivo minha opinião musical era
importante para ela. Deve ser o Bob Dylan. Quase sempre é por causa dele.
Ou talvez seja só...Alguma outra coisa inominável nesse
texto.
Eu, dei a lista, tal qual pedido. Tiveram piadas, risos e
conversas. A mão dela roçando no meu braço, minha espinha arrepiada, o perfume
dele, doce, o calor...
Eu sabia, eu soube no momento que ela fez a pergunta que
aquele momento não se repetiria, nem com ela nem com ninguém. Eu não a veria
mais. Fiquei triste. Gostaria que ela tivesse me feito a pergunta por alguma
rede social. Lá a pergunta ficaria para sempre. Se fosse em uma publicação ou
em uma mensagem particular. As vezes na publicação causaria inveja e quando
muito tempo depois, eu estivesse namorando ou saindo com alguém, e a pessoa
pergunta-se “Quem é essa menina?” eu mentiria. Diria que nem lembrava mais, uma
qualquer. E a mentira renovaria aquele comentário e só eu saberia que foi
importante.
Pessoalmente o único registro é a memória, e ela mente. Eu
diria que a moça usava vestido azul, mas talvez ela estivesse de macacão rosa.
Mas era bonita e bronzeada, isso é verdade. E queria ouvir o que eu sugerisse,
não seria uma forma de intimidade?
Ela foi embora com a lista e todas as minhas fantasias
relacionadas a ela. Numa tarde de sol, longe da praia e perto do cinema. E eu nunca
mais a vi.