terça-feira, 12 de agosto de 2025

Pneumonologista e cardiologistas

 

Existem duas coisas que todo ano me afligem e, ainda assim, não consigo encontrar solução duradoura para nenhuma delas.
Todo inverno, eu fico doente: pneumonia, gripe ou asma alérgica severa. Todo ano estou eu na Santa Casa, na Unidade de Pronto Atendimento, ou no postinho do bairro, pegando receita de antibiótico ou, às vezes, até tendo que fazer raio-x do pulmão. Tenho uma coleção de receitas e exames que talvez um dia use para fazer uma obra de arte.

Fico três dias de licença, melhoro e volto a trabalhar, sentindo que está faltando um pedaço do meu pulmão toda vez que fico doente. Eu diria que, provavelmente, minha morte será causada por algum problema pulmonar — falta de ar ou algo assim. A famosa parada cardiorrespiratória. Apesar disso, só fui uma vez ao pneumologista atrás de um tratamento adequado, e isso já tem muitos anos. E há um bom motivo para eu não me preocupar tanto com o pulmão: sei que, na verdade, o que vai me matar é o coração.

Da mesma forma que todo ano tenho problemas respiratórios, todo ano também tenho meu coração partido em vários pedaços. Nos anos de mais sorte, isso ocorre apenas duas vezes ao longo de doze meses. Nos anos de mais azar, ocorrem quatro ou cinco vezes. Sou mesmo muito sensível, terrivelmente romântica, e insisto em querer me apaixonar pelo sexo oposto, mesmo sabendo que, na melhor das hipóteses, só sou correspondida quando já desisti da pessoa. Nunca um romance; nunca correspondida em tempo real.

Mas existem os meses de paixão, e nesses eu encontro um pouco de paz — aqueles momentos em que a pessoa é capaz de tudo para te conquistar, aquele curto período em que tudo arde igualmente. Dura pouco, às vezes uma semana, no máximo dois meses. E então, mais uma vez, preciso me preparar para o impacto do meu coração sendo dilacerado. Eu me apaixonei, ele não. Vida que segue. Geralmente ela segue com eu indo para um lado e o indivíduo para o outro.

Não existe atestado para coração partido pelo Sistema Único de Saúde, mas, da mesma forma que ocorre com meus resfriados, gripes e pneumonias, eu fico inútil por uns dias. Fico mal, sinto dores, desânimo — e depois tudo vai voltando ao normal. E quando volto, sempre sinto que está faltando uma parte do meu coração. Pulmão regenera, coração não. Para o pulmão, tem remédio.

O coração, um dia, sem aviso, vai sentir uma decepção tão violenta que será física, e eu vou enfim cair no chão, quebrada, junto com ele. Não adianta cardiologista ou psicólogo. Endocrinologista, psiquiatra, reumatologista ou qualquer outro médico. Adiantaria eu mudar, mas nunca consegui e, agora, depois de praticamente duas décadas tentando, eu desisti.

Da mesma forma que não vou ao pneumologista, também continuo insistindo em me apaixonar, mesmo sabendo o fim. A única aposta que eu faria na vida é essa: que uma vez por ano eu ficarei terrivelmente doente por alguma causa pulmonar-respiratória, e que uma vez por ano alguém vai partir meu coração.

Com o tempo, acabei me habituando às minhas duas aflições. Todo ano eu sei que preciso me preparar para esse momento e, ultimamente, quando chega, já sei o que fazer e já estou pronta. Isso não significa que não incomode, significa que sei que vai passar e que aceitei que minha vida é assim.

Quem sabe, em outra vida, eu venha com pulmões e coração mais fortes, sem problemas respiratórios e sem sentimentalismos que, no fim, nunca serviram para nada.