Existe uma lenda grega, bem conhecida por sinal, do
encontro entre a Esfinge e Édipo. A lenda relata que os deuses Hera (em algumas
versões Ares) decidem enviar a Esfinge de volta a sua casa na Etiópia, pois
esta causara grandes problemas na Grécia. No caminho de volta a sua casa, a
esfinge resolve parar em Tebas e se postando exatamente na entrada da cidade
propõe um enigma: Que criatura
pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?
Caso a pessoa resolvesse o enigma poderia passar por ela ilesa, caso
contrário a Esfinge o devorava.
Acontece que após muitos falharem em adivinhar tal enigma, Édipo consegue
resolve-lo, fazendo com que a esfinge cometesse suicídio de vergonha por ter
seu enigma resolvido.
Creio que o verdadeiro enigma da esfinge não é esse que ela propôs a
tantos, inclusive a Édipo, o verdadeiro enigma é a existência desse ser e seu
fenomenal suicídio, se jogando de um precipício para não conviver com a
vergonha de ter seu enigma revelado. Ora, se tal enigma representava tanto para
ela, seria essa uma forma de desvendar a Esfinge?
A esfinge tinha prazer em ser indecifrável, se divertia com isso,
levando essa diversão a extremos, e sempre teve absoluta certeza que ninguém a
desvendaria. Ledo engano. Imagine a dor de ter seu enigma desvendado e a
vergonha de descobrirem o que você não quer que descubram. Pior: ter de
conviver com isso.
Há uma aura de mistério e autoconfiança da esfinge de que ninguém é
esperto o suficiente para a enganar ou resolver seus enigmas, e uma proteção
dela em relação as pessoas. Ela não dará dicas ou te ajudará, ela não quer que
você resolva seu mistério, ela deseja distância. A resolução do mistério
poderia ser uma aproximação nada bem-vinda, marcaria quem resolveu o mistério
como um igual.
Esfinges não gostam de ter seus segredos declarados ou suas intenções
descobertas. Adoram brincar e querem a todo custo fazer com que você acredite
que irá revelar o enigma, mas, a verdade, é que você será devorado por seu
mistério.
Mas e os Édipos? Decifrar ou serem devorados por ela? Ao ser devorado
se amarga a experiência de não ter mais controle da situação, e saber que
perdeu o jogo e qualquer outra oportunidade de jogar novamente. Ao decifrar, a
vitória é cantada e eternizada, mas perde-se qualquer oportunidade de jogar
novamente, a jogadora principal já não existe mais para jogar. Mesmo que a
esfinge não se jogasse de um precipício, ela já não seria mais a esfinge, pois
tudo em que se baseava, seu enigma insolúvel, havia sido resolvido, perdera a
identidade e o sentido de sua vida. Melhor desfecho foi ter achado o precipício
mesmo. Mas na verdade ambos perderam: Édipo foi responsável pela morte de outro
ser, mesmo que indiretamente.
Ou seja, ao pensar se quer decifrar ou ser devorado por uma esfinge,
antes de mais nada reflita se está disposto a tanto para poder passar por
Tebas.