Hoje, um dia normal, eu fui no
supermercado fazer minhas compras diárias. Ele fica próximo a minha casa, o que
facilita muito a minha vida, e também me obriga a passar na frente dele todos
os dias que saio de casa. Enfim, enquanto eu estava fazendo compras eu comecei
a observar o supermercado e a construção, esse é um hábito que eu tenho muito
comum, eu amo olhar interiores de construções, fachadas de casa, e,
principalmente, olhar a fachada das casas e tentar determinar a época de sua
construção. Engraçado, eu não fiz arquitetura ou qualquer um desses cursos mais
relacionados à construção, o que significa que muitas das vezes eu tenho que
pesquisar para saber de que época que é a fachada daquela casa em específico,
as vezes demora um tempo para descobrir. Como eu sou muito curiosa, eu fico
tentando descobrir qual seria a casa mais antiga daquela rua, e, algumas vezes,
já consegui descobrir quais que eram as construções mais antigas e as mais
recentes. Já pesquisei sobre as casas que morei, o nome das ruas, e a idade
daquela rua. Vamos chamar isso de hobbie.
Enfim, voltando ao início, eu
estava no supermercado e enquanto eu me perdi olhando a construção, eu me
lembrei de algo. Quando esse supermercado foi inaugurado eu já morava nessa
mesma rua que moro atualmente, fiquei tentando lembrar o que que era aquele
lugar antes de se tornar supermercado, e até agora eu não consegui me lembrar,
era como se lá houvesse um espaço vazio até que o supermercado fosse construído
e pudesse trazer um significado para a minha vida diária. O que existia antes
do supermercado provavelmente não fazia parte da minha vida, como supermercado
hoje em dia faz, mas, com certeza, fazia parte da vida de alguém.
Eu acho interessante refletir
sobre como muitas às vezes nós conseguimos esquecer com facilidade coisas que
eram construídas, coisas que ficavam anteriores a outras construções, como
essas substituições de construção em construção passam muitas das vezes
despercebidos por nós. Esse esquecimento arquitetônico, esse esquecimento
urbano que nós passamos será resultado do que? Eu me pergunto: se nós
conseguimos esquecer a construção anterior ao supermercado, que foi construído
deve fazer uns 5 anos mais ou menos, como é triste o passado das construções
dos casarões da Paulista ou dos edifícios mineiros que foram substituídos por
outras construções, no meio dessa ordem urbana frenética.
Esquecidos, pois ninguém se
lembra mais deles, os vivos não viam um significado naquelas construções que
fizessem com que elas ficassem memorizadas, e talvez tivessem significado para
os mortos, mas os mortos não têm memórias, não tem voz. A memória dos mortos só
pode ser mantida pelos vivos, e estes, por sua vez, só mantêm o que lhes
convém.
Penso, que esse esquecimento das
construções, talvez representem a inevitável morte da memória, a vontade que
nossa sociedade parece ter de matar as recordações de outros tempos e de outras
vidas e de apagar as narrativas que não interessam ao desenvolvimento da malha
urbana atual. Eu, que me recuso a esquecer as construções antigas, que me
recuso a ver o tempo como uma linha reta tênue e prefiro ver com uma círculo alado,
vejo que no fim, a sociedade também me esquecerá, pois não tenho maior
importância na história do que os casarões e as casas sem ouro e sem barroco,
e, principalmente, sem o poder da narrativa de quem venceu na história.
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