quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A sinfonia imperfeita.

 Não me lembro quando conheci alguém tão divertida, bonita e inteligente. Devem ter passado uns cinco anos ou mais desde a última vez que me deparei com alguém assim. Sim, naquele momento, eu estava encantado por ela. E, particularmente feliz pelo fato de que, aparentemente, um romance dela tinha dado errado há um mês atrás. Fiz uma anotação mental para nunca contar a ela que fiquei feliz com a ruína amorosa dela.

Foi a primeira vez em anos que passei horas com alguém sem perceber o tempo passar. E eu queria passar mais horas com ela. E poderia passar mais horas com ela, o que era incrível também. Ela parecia extremamente disponível para estar comigo. Ela queria estar comigo, e eu nem precisei fazer nenhum esforço. Da última vez que saí com alguém o tempo todo, tive que me esforçar. Esforçava-me para agradar, depois para não parecer muito "emocionado", e até mesmo para fazer coisas que não estava afim, mas ela estava. Era um esforço constante, até que me cansei e parei. E o relacionamento também acabou. E agora, eu estava aqui, diante dessa pessoa incrível. Parecia um presente de Deus.

Passeamos e conversamos, e no final da noite, acabamos sentados em frente à casa dela. Era verão, mas a noite estava amena. Ela disse que precisava entrar. Eu também precisava ir embora, já era alta madrugada. Percebi que ainda não a tinha beijado naquele instante. Olhei para ela e fiquei paralisado por alguns instantes; ela tinha um sorriso lindo. Mas a beijei. E o beijo dela foi fantástico. Foi um prazer indescritível, uma orgia de prazer. Havia entrega e desejo. Naquele beijo, senti o desejo dela de ficar comigo. Foi um dos melhores beijos da minha vida. Um encaixe perfeito.

Mas tínhamos que nos despedir. Houve mais beijos de despedida, abraços, e o fim. Fui embora. Viajava no dia seguinte às dez horas da manhã para São Paulo, onde eu morava. Conhecer aquela menina foi um presente grego, a perfeição, a mais pura perfeição que eu não poderia ter. Malditas férias em Maceió. Longe, muito longe de mim. E impossível de ficar perto, ambos temos trabalhos, família, amigos...

Definitivamente, São Paulo estava mais cinza quando cheguei. Por alguns minutos, pensei em largar tudo e simplesmente voltar para Maceió. Mas eu tinha acabado de ganhar uma promoção no trabalho, e todos sabemos que não é fácil arranjar emprego no Brasil de 2022. Os colegas de trabalho perguntaram sobre a viagem: foi boa? Descansou? Se divertiu? Sim, foi ótima, e voltei com as energias renovadas. Pensei nela o dia todo, mas isso não comentei com ninguém. Minha irmã almoçou comigo e também perguntou sobre a viagem. Ainda assim, mantive o silêncio.

Não direi a ninguém, pois não há como expressar o que sinto. É uma loucura imaginar que me apaixonei assim em tão pouco tempo, apenas quinze dias. Isso vai passar. Ficaremos bem. E essa paixão será uma lembrança que trouxe comigo da viagem, guardada para sempre onde ninguém pode alcançar ou quebrar. Eu ganhei uma promoção, ela ganhou uma bolsa de estudos, e infelizmente, neste mundo, não podemos ganhar tudo.

Perdemos um romance.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A bela da noite

 

Era o quinto ou sexto cigarro que aquela menina fumava? Fiz as contas rapidamente: eu tinha parado de contar no terceiro, isso já fazia algum tempo, então devia ser o sexto ou sétimo na verdade. Mas era fato que àquela altura ela estava em outro nível de consciência: algumas pessoas diriam bêbada. E era um estado de espírito bem diferente do meu.

Porém, era hipnotizante o jeito como ela se mexia, me fazia pensar em coisas que não podem ser ditas aqui pois ferem a moral e os bons costumes. Eu fiquei olhando para ela como se não pudesse desviar o olhar, e de fato, não podia mesmo. O lugar que estávamos era uma dessas casas noturnas pequenas e fechadas que, além de extremamente quentes, parecem que foram criadas com o propósito de fazer as pessoas brincarem de “sardinha” em um nível jamais imaginado. Não gosto desses lugares, e, na verdade tinha ido só por que precisava sair um pouco de casa. Para o meu azar,  meus amigos gostavam daquela loucura, com DJs que tocam músicas hipsters que eu não ouço, luzes que piscam o tempo todo, pessoas se esbarando e dançando de maneira escandalosa, chão ficando grudento por causa da bebida derramada...Eu estava pensando: “o que vim fazer aqui nesse inferno?”.

No momento em que eu já questionava seriamente a minha participação com meus amigos naquela noite, resolvi ir lá fora fumar, e refletir sobre o que disse acima, e essa guria chegou, parou bem na minha frente, com um grupo de amigos barulhentos, e, nem por um minuto parou de dançar e mexer, quando ela resolveu entrar naquele inferno, fui atrás dela, não fazia ideia do que estava fazendo, mas considerei que minhas possibilidades de diversão eram poucas, olhar ela tinha me divertido, portanto segui- la era a melhor coisa que eu tinha para fazer naquele momento. E fiquei nesse caminho a noite toda, ela fumava eu saia e fumava, ela entrava, eu entrava e ficava vendo-a dançar.

Seja como for, ela nem olhou para minha fuça. E eu, talvez por esse fato, resolvi olhar com mais obstinação para garota, ela estava completamente enlouquecida dançando uma música que falava algo como I want you all the time” (ou será que era “I want you in my time”?), eu a queria, do mesmo jeito que a música estava tão insistentemente cantando, e ela dançava de uma maneira que não devia ser permitida por lei, tenho quase certeza que ela podia ser presa por atentado ao pudor. Fiquei esperando a hora que ela ia tirar a camiseta que já estava grudada de suor (ou seria bebida derramada?) no corpo dela. Ela não tirou, meus sonhos tem a tendência de não se tornarem realidade, mas nem por isso foi decepcionante a vista.

Acabou a sessão do DJ, ela apenas sussurrou algo no ouvido de uma amiga, mandou um beijo pro DJ e saiu para fumar de novo. Será que eles tinham alguma coisa ou eram só amigos? Infelizmente para descobrir isso eu teria que conversar com ela, e socializar não era meu forte. Quais as chances dela vir me pedir um cigarro? Olhei para a horda de amigos dela e vi que ela definitivamente não precisava de mim para conseguir cigarros. Que pena.

Sem coragem para começar a falar com ela eu só podia imaginar na minha cabeça como seria um show particular com ela dançando só para mim. Aqueles cabelos dela eram magníficos balançando, seu sorriso também, não era o corpo que era tão perfeito, apesar de ser bem bonito também, era a energia e maneira como ela dançava. Existiam ali várias meninas mais bonitas, mas elas não tinham essa energia que ela tinha. Elas não tinham essa alegria impenetrável, esse desejo visível de viver e de estar viva.

Mas ela continuava, sem olhar para mim. Me senti mais insignificante que um poste sem luz em uma noite escura.

Decididamente ela estava no oitavo cigarro, e eu no sexto drink, que consistia em vodka pura com um pouco de limão, quando ela entrou, e dessa vez, eu fiquei lá fora, conversando com uns amigos, pensando em como aquela menina estava me matando. Cada centímetro do meu corpo pedindo para chegar perto dela. Eu nem lembro sobre o que meus amigos estavam falando, mas lembro de ouvir uma voz bem distante, insinuando que talvez eu estivesse bêbado e com o olhar perdido.

De repente, ela passou por nós com a bolsa e comanda em mãos. Era agora, ela iria embora, podia conversar com ela e talvez fazer algo que saísse da minha imaginação. Mas tinha que ser naquele momento.

Ela passou por mim olhou na direção que eu estava, nossos olhares se encontraram (é agora ou nunca), respirei fundo (ela estava esperando para poder entregar a comanda e sair), alguém a chamou mão (chamava Elena, seria com E ou H?) e ela olhou, mandou um beijo abanando a mão. Paralisei por uns minutos, então, andei em direção a ela na hora que ela entregava a comanda e saia do lugar, rápida e sutil.

Na próxima noite, talvez, entre o primeiro cigarro e o oitavo, ela olhe para mim e eu consiga ir até onde ela está e, quem sabe, consiga não me queimar com toda a energia que ela possui. Ademais, eu fiquei com uma loirinha aquele dia, muito bonita e simpática, que me deu seu telefone e disse que tinha amado me conhecer.