Era o quinto ou sexto cigarro que
aquela menina fumava? Fiz as contas rapidamente: eu tinha parado de contar no
terceiro, isso já fazia algum tempo, então devia ser o sexto ou sétimo na
verdade. Mas era fato que àquela altura ela estava em outro nível de
consciência: algumas pessoas diriam bêbada. E era um estado de espírito bem
diferente do meu.
Porém, era hipnotizante o jeito
como ela se mexia, me fazia pensar em coisas que não podem ser ditas aqui pois
ferem a moral e os bons costumes. Eu fiquei olhando para ela como se não
pudesse desviar o olhar, e de fato, não podia mesmo. O lugar que estávamos era
uma dessas casas noturnas pequenas e fechadas que, além de extremamente quentes,
parecem que foram criadas com o propósito de fazer as pessoas brincarem de “sardinha”
em um nível jamais imaginado. Não gosto desses lugares, e, na verdade tinha ido
só por que precisava sair um pouco de casa. Para o meu azar, meus amigos gostavam daquela loucura, com DJs
que tocam músicas hipsters que eu não ouço, luzes que piscam o tempo todo,
pessoas se esbarando e dançando de maneira escandalosa, chão ficando grudento
por causa da bebida derramada...Eu estava pensando: “o que vim fazer aqui nesse
inferno?”.
No momento em que eu já
questionava seriamente a minha participação com meus amigos naquela noite, resolvi
ir lá fora fumar, e refletir sobre o que disse acima, e essa guria chegou,
parou bem na minha frente, com um grupo de amigos barulhentos, e, nem por um
minuto parou de dançar e mexer, quando ela resolveu entrar naquele inferno, fui
atrás dela, não fazia ideia do que estava fazendo, mas considerei que minhas
possibilidades de diversão eram poucas, olhar ela tinha me divertido, portanto
segui- la era a melhor coisa que eu tinha para fazer naquele momento. E fiquei
nesse caminho a noite toda, ela fumava eu saia e fumava, ela entrava, eu
entrava e ficava vendo-a dançar.
Seja como for, ela nem olhou para
minha fuça. E eu, talvez por esse fato, resolvi olhar com mais obstinação para
garota, ela estava completamente enlouquecida dançando uma música que falava
algo como “I want you all
the time” (ou será que era “I want you in my time”?), eu a queria, do mesmo
jeito que a música estava tão insistentemente cantando, e ela dançava
de uma maneira que não devia ser permitida por lei, tenho quase certeza que ela
podia ser presa por atentado ao pudor. Fiquei esperando a hora que ela ia tirar
a camiseta que já estava grudada de suor (ou seria bebida derramada?) no corpo
dela. Ela não tirou, meus sonhos tem a tendência de não se tornarem realidade,
mas nem por isso foi decepcionante a vista.
Acabou a sessão do DJ, ela apenas
sussurrou algo no ouvido de uma amiga, mandou um beijo pro DJ e saiu para fumar
de novo. Será que eles tinham alguma coisa ou eram só amigos? Infelizmente para
descobrir isso eu teria que conversar com ela, e socializar não era meu forte.
Quais as chances dela vir me pedir um cigarro? Olhei para a horda de amigos
dela e vi que ela definitivamente não precisava de mim para conseguir cigarros.
Que pena.
Sem coragem para começar a falar
com ela eu só podia imaginar na minha cabeça como seria um show particular com
ela dançando só para mim. Aqueles cabelos dela eram magníficos balançando, seu
sorriso também, não era o corpo que era tão perfeito, apesar de ser bem bonito
também, era a energia e maneira como ela dançava. Existiam ali várias meninas
mais bonitas, mas elas não tinham essa energia que ela tinha. Elas não tinham
essa alegria impenetrável, esse desejo visível de viver e de estar viva.
Mas ela continuava, sem olhar para mim. Me senti mais
insignificante que um poste sem luz em uma noite escura.
Decididamente ela estava no
oitavo cigarro, e eu no sexto drink, que consistia em vodka pura com um pouco
de limão, quando ela entrou, e dessa vez, eu fiquei lá fora, conversando com
uns amigos, pensando em como aquela menina estava me matando. Cada centímetro
do meu corpo pedindo para chegar perto dela. Eu nem lembro sobre o que meus
amigos estavam falando, mas lembro de ouvir uma voz bem distante, insinuando
que talvez eu estivesse bêbado e com o olhar perdido.
De repente, ela passou por nós
com a bolsa e comanda em mãos. Era agora, ela iria embora, podia conversar com
ela e talvez fazer algo que saísse da minha imaginação. Mas tinha que ser
naquele momento.
Ela passou por mim olhou na
direção que eu estava, nossos olhares se encontraram (é agora ou nunca),
respirei fundo (ela estava esperando para poder entregar a comanda e sair),
alguém a chamou mão (chamava Elena, seria com E ou H?) e ela olhou, mandou um
beijo abanando a mão. Paralisei por uns minutos, então, andei em direção a ela
na hora que ela entregava a comanda e saia do lugar, rápida e sutil.
Na próxima noite, talvez, entre o
primeiro cigarro e o oitavo, ela olhe para mim e eu consiga ir até onde ela
está e, quem sabe, consiga não me queimar com toda a energia que ela possui.
Ademais, eu fiquei com uma loirinha aquele dia, muito bonita e simpática, que
me deu seu telefone e disse que tinha amado me conhecer.
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