Existem duas coisas que todo ano me afligem e, ainda assim,
não consigo encontrar solução duradoura para nenhuma delas.
Todo inverno, eu fico doente: pneumonia, gripe ou asma alérgica severa. Todo
ano estou eu na Santa Casa, na Unidade de Pronto Atendimento, ou no postinho do
bairro, pegando receita de antibiótico ou, às vezes, até tendo que fazer raio-x
do pulmão. Tenho uma coleção de receitas e exames que talvez um dia use para
fazer uma obra de arte.
Fico três dias de licença, melhoro e volto a trabalhar,
sentindo que está faltando um pedaço do meu pulmão toda vez que fico doente. Eu
diria que, provavelmente, minha morte será causada por algum problema pulmonar
— falta de ar ou algo assim. A famosa parada cardiorrespiratória. Apesar disso,
só fui uma vez ao pneumologista atrás de um tratamento adequado, e isso já tem
muitos anos. E há um bom motivo para eu não me preocupar tanto com o pulmão:
sei que, na verdade, o que vai me matar é o coração.
Da mesma forma que todo ano tenho problemas respiratórios,
todo ano também tenho meu coração partido em vários pedaços. Nos anos de mais
sorte, isso ocorre apenas duas vezes ao longo de doze meses. Nos anos
de mais azar, ocorrem quatro ou cinco vezes. Sou mesmo muito sensível, terrivelmente
romântica, e insisto em querer me apaixonar pelo sexo oposto, mesmo sabendo
que, na melhor das hipóteses, só sou correspondida quando já desisti da pessoa.
Nunca um romance; nunca correspondida em tempo real.
Mas existem os meses de paixão, e nesses eu encontro um
pouco de paz — aqueles momentos em que a pessoa é capaz de tudo para te
conquistar, aquele curto período em que tudo arde igualmente. Dura pouco, às
vezes uma semana, no máximo dois meses. E então, mais uma vez, preciso me
preparar para o impacto do meu coração sendo dilacerado. Eu me apaixonei, ele
não. Vida que segue. Geralmente ela segue com eu indo para um lado e o
indivíduo para o outro.
Não existe atestado para coração partido pelo Sistema Único
de Saúde, mas, da mesma forma que ocorre com meus resfriados, gripes e
pneumonias, eu fico inútil por uns dias. Fico mal, sinto dores, desânimo — e
depois tudo vai voltando ao normal. E quando volto, sempre sinto que está
faltando uma parte do meu coração. Pulmão regenera, coração não. Para o pulmão,
tem remédio.
O coração, um dia, sem aviso, vai sentir uma decepção tão
violenta que será física, e eu vou enfim cair no chão, quebrada, junto com ele.
Não adianta cardiologista ou psicólogo. Endocrinologista, psiquiatra,
reumatologista ou qualquer outro médico. Adiantaria eu mudar, mas nunca
consegui e, agora, depois de praticamente duas décadas tentando, eu desisti.
Da mesma forma que não vou ao pneumologista, também continuo
insistindo em me apaixonar, mesmo sabendo o fim. A única aposta que eu faria na
vida é essa: que uma vez por ano eu ficarei terrivelmente doente por alguma
causa pulmonar-respiratória, e que uma vez por ano alguém vai partir meu
coração.
Com o tempo, acabei me habituando às minhas duas aflições.
Todo ano eu sei que preciso me preparar para esse momento e, ultimamente,
quando chega, já sei o que fazer e já estou pronta. Isso não significa que não
incomode, significa que sei que vai passar e que aceitei que minha vida é
assim.
Quem sabe, em outra vida, eu venha com pulmões e coração
mais fortes, sem problemas respiratórios e sem sentimentalismos que, no fim,
nunca serviram para nada.
Licença poética extrema. Eu sempre amei cuidar de você, e a correspondência era clara e visível, todos comentavam. Hoje foi um dos dias mais difíceis da minha vida, queria muito ter alguém para conversar. Mas fico feliz pelo blog ter postagem nova. Só de saber que você escreve, vejo que está bem, o que me deixa feliz.
ResponderExcluirAmo-te tanto, meu amor... não cante
ResponderExcluirO humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo, de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Estava vasculhando algumas fotos antigas e me deparei com uma série de julho de 2011. Você estava tão linda nessas fotos. Me deu uma saudade...
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