terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A arte de (não) saber empreender.

Algumas pessoas parecem que tem um dom em adivinhar aquilo que dará certo a longo prazo, o que vai se tornar um bom investimento, conseguem fazer negócios, com pouco ou nenhum investimento, viram grandes coisas e ficam ricos, ou, pelo menos, muito bem sucedidos. Em contrapartida, existem outras que parecem fazer exatamente o contrário, pegam grandes negócios e transformam em nada e nunca escolhem um bom investimento a longo prazo, um que realmente dê lucro, ao contrário, muitas vezes ficam no prejuízo.
Muitas pessoas podem dizer que isso tem relação com a personalidade, pessoas ativas e inteligentes têm o primeiro perfil e pessoas preguiçosas e sem pró-atividade permanecem no segundo perfil. Eu acredito que não é apenas isso, acredito que existe um pouco de sorte envolvida. Sorte essa maldita, que já foi cultuada até mesmo como Deusa pelos antigos romanos, e ,há de se convir, eles estavam mais do que corretos em a achar uma Deusa, as vezes, errados estamos nós, em não achar, pois ela existe, e pode nos transformar em reis ou mendigos.
José Dias da Conceição era uma pessoa que se encaixava no segundo perfil dito acima,  ótima pessoa, mas péssimo empreendedor. Era homem sério, comia sempre nos mesmos horários, até no domingo, não bebia, não comia nada muito gorduroso. Dedicava-se sempre muito ao trabalho, começou trabalhando nos correios aos dezoito anos, depois de uns três anos foi trabalhar na prefeitura, nessa época em sua cidade acontecia um surto de boates e restaurantes, existiam vários e todos, aparentemente, faziam sucesso. Um dia um amigo fez um comentário, dizendo que se tivesse dinheiro iria abrir um negócio desses.
Por meses José pensou nesse comentário, enfim, decidiu usar um dinheiro da herança de sua mãe para construir uma boate, seria uma boate moderna, mandou chamar um decorador de São Paulo, pesquisou sobre o assunto. Ao fim de um ano sua boate inaugurou. Durante seis meses foi verdadeiro sucesso, vinham atrações diferentes, tinham festas temáticas que todos adoravam. José já estava pronto para se despedir da prefeitura quando aconteceu uma coisa que ninguém esperava. Uma das boates da cidade teve uma batida policial e descobriram que lá era ponto de venda de droga. Fecharam essa boate e todas as outras entraram em crise, ninguém queria ser associado a algum lugar que vendia droga, e, quem queria ser associado a esse tipo de lugar as boates não queriam. A polícia ficava em cima. Logo todas as boates começaram a fechar, inclusive a de José.
Por muito tempo ele ficou sem investir em nada, depois, novamente, resolveu investir, dessa vez em uma loja de sapatos, após um tempo, falência de novo, depois quando inauguraram uma fábrica de roupas que não tinha nada por perto ele resolveu fazer um restaurante, novamente falência e assim por diante. Todo negocio que abria, era falência. Sua mulher vivia lhe pedindo que parasse, que aquilo não ia dar certo, que daquela maneira iam acabar ficando sem ter nem onde morar. Depois de uma briga longa entre os dois, com direito a gritos, choros e até ameaças da mulher de que ela mudaria de casa, ele parou. Saiu da prefeitura, foi trabalhar na Secretaria da educação de uma cidade ao lado. A vida parecia ter voltado ao normal.
Eis que um dia, ele ouve no trabalho uma conversa sobre produtos que iriam entrar em extinção, um dos produtos citados na conversa foi a Tequila, como José não bebia ele não deu muita importância a isso em um primeiro momento, e voltou a trabalhar. Porém em sua cabeça aquele assunto começou a crescer, vez por outra lembrava das frases dos seu colegas durante a conversa : “Tequila vai ser mais raro que ouro” “Eu vou amanhã mesmo já comprar umas dez garrafas e deixar em casa” “Impossível não ser extinto! Viram o que falaram na reportagem? A árvore demora anos para poder crescer e ninguém esta plantando”.
Tinha momentos que se via vendendo garrafas de tequila a quinhentos ou mil reais, e, por mais que lutasse, não conseguia mais conter o desejo de comprar várias garrafas da bebida, guardar em um lugar da casa e após uns trinta anos, ficar rico.
Foi o que fez, comprou cem garrafas da bebida pôs em caixas e guardou tudo em um quartinho onde ele costumava por móveis velhos e coisas que não funcionavam mais. Todo mês comprava mais uma garrafa para coleção, em alguns anos foi obrigado a reorganizar o quartinho para que coubesse tudo.
Vinte anos depois dessa loucura, José teve um infarto e morreu, nem pode falar para ninguém sobre as garrafas de tequila ou qualquer coisa do tipo. De certa maneira foi bom, morreu achando que seu último “empreendimento” daria certo.
Acontece que alguns anos mais tarde enquanto sua mulher mexia nas coisas da casa ela resolveu ir naquele quartinho que ninguém ia desde que José havia morrido. Qual não foi sua surpresa quando ao chegar lá e começar a mexer nas coisas viu caixas e mais caixas de tequila, com toda certeza que aquilo devia ter sido uma das derradeiras loucuras do marido, resolveu vender tudo, e foi o que fez. Vendeu.
Vinte anos depois a tequila estava extinta e caríssima. No fim José até havia acertado sobre seu último negócio, só não teve sorte de viver para conseguir lucrar com isso.


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