quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Dias de merda.

Lentamente ela se levantou, demorou uns dez a quinze minutos para lembrar o porque de estar tão deprimida e com tanta vontade de não sair da cama naquele dia. Quando se lembrou a primeira vontade dela foi deitar novamente, minto, a primeira vontade dela foi tentar se matar sufocada no lençol. Chegou a pensar seriamente nessa possibilidade mas seu lado racional a lembrou que isso não seria possível, além do mais, restava a ela um resto de amor próprio que a impedia de se matar.
Levantou chutando pedra, estava sozinha em casa e então, pela primeira vez em três dias conseguiu pensar em algo que a animasse: ela ainda tinha uma casa para morar. Podia parecer besteira mas não era, imagine se morasse com outra pessoa? Se morasse com os amigos que a abandonaram na hora que ela mais precisou? Ou com alguém do trabalho, que teria que olhar todo dia e ser como um lembrete móvel da sua vergonha? Nesse momento interiormente agradeceu a ela mesma por ter tido a sábia decisão de sempre querer separar algumas coisas. Deus sabe o que faz e eu também. Amém.
Foi fazer café na cafeteira e lembrou que a cafeteira também havia queimado, tudo bem, ainda tinha coador e toda aquela tralha para fazer um café à moda antiga. Enquanto tomava o café pensava que 2014 tinha sido um ano maldito, e tentava ter certeza disso repassando os fatos bons e ruins. Definitivamente tinha sido um ano ruim e tinha fechado com chave de ouro.
Com nenhuma outra vontade, sem ser ficar deitada vendo seriados no seu computador, com o celular desligado, resolveu ir tomar banho e cumprir sua vontade, ao menos aquele dia. Enquanto via as séries acabou dormindo, teve um sonho onde seus amigos, ou melhor, aqueles que um dia haviam sido seus amigos estavam com ela e todos estavam bonitos, felizes e radiantes, como se nunca tivesse tido nenhuma briga, então ela acordou e pela segunda vez nesses três dias chorou feita uma criança, não secou pela impossibilidade disso ocorrer, mas ficou com uma cara horrível. Depois de tudo, o que iria fazer? Como ia seguir em frente? E se a decisão que ela tivesse tomado de continuar fazendo o que ela achava certo se mostrasse errada?
Foi a cozinha, tomou outra xícara de café, lembrou que tinha que comer, enquanto procurava alguma coisa na geladeira, que por sorte tinha uma lasanha congelada, o celular tocou. Um momento de tensão, ela jurava que tinha desligado o celular, só que obviamente, tinha se enganado, tudo bem, fazia isso com frequência. Não conhecia o número, atendeu. Era uma amiga da mãe dela: “Tia Beatrice não estou na casa da minha mãe”, “Ela está viajando com o Rodolfo”,  “Claro que sim”, “tudo ótimo”, “estou resfriada”, “ é muito trabalho”, “ tenho que desligar aqui por que combinei de sair com uns amigos e eles já devem estar esperando” “beijos”. Tinha esquecido como a tia Beatrice gostava de falar, mas lembrei de guardar o celular dela para não atender em momentos assim. Se ela conseguir ligar para minha mãe e disser que estou parecendo “chateadinha”, estou fudida no termo amplo da palavra, e ao pensar isso pela primeira vez em dias ela começou a rir, pelo simples fato de que ela já estava fudida no sentido amplo da palavra. Bom, ao menos assim estou mais calma.Pensou.
Foi até a cômoda do quarto procurar uns fósforos por que os da cozinha tinham acabado e achou um maço de papéis, pegou um dos tantos papeis e resolveu olhar para ver o que era.
Em uma folha sulfite, escrito em letra de forma com giz vermelho, se encontrava a seguinte frase: Mande tudo a merda e vá!
Vá? Onde? Bom, foda-se. Foi a cozinha beber outro café e então lembrou de quem havia escrito aquilo e o porque, e a pessoa em questão tinha razão, talvez ela estivesse se preocupando demais, talvez nem tudo estivesse perdido, podia mandar currículo para outras empresas, podia ir fazer outros cursos, pensando bem, talvez fosse a hora de mudar de cidade, fazer outras amizades mesmo, começar de novo. Não queria ser uma Pollyana que enxerga tudo com bons olhos, mas naquele momento era exatamente o que seria. E quanto aos problemas dela que precisavam ser resolvidos? Não era se lamentando que ela iria resolver, tinha que ir a luta. E sobre os amigos dela que diziam que ela não servia mais para ser amiga deles por conta do seu comportamento? Bom, coisas boas atraem coisas boas, boas vibrações atraem boas vibrações, ela ficando bem iria atrair coisas do bem e era disso que ela precisava.
Aquilo foi momento muito inspirador durou meia hora, tempo suficiente para ela tomar outro banho ,ir ao supermercado e voltar, ai voltou toda a tristeza. Então ela pensou: bom, hoje esteve melhor que ontem, amanhã será melhor que hoje. Raciocínio lógico. Vou superar e talvez mudar de cidade mesmo. Enquanto comia uma maça ela pensou mais um pouco e voltou a assistir séries no computador.

Aquele dia não teria mais nada inspirador. Mas o episodio que ela viu de Mad Men foi realmente muito bom.

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