-Caindo de novo- ela disse com um meio sorriso no
rosto.
-Eu sei, mas podemos... tentar de novo.
Ele riu descaradamente,
apesar dos longos anos e de todos os sofrimentos que mantinham o sorriso de
covinhas em seu rosto. Seu sorriso preenchia todo o vazio do espaço. Não era
bonito como já foi no passado, mas como tudo na vida, essa fase havia passado.
Ela era bonita, e, embora não tenha sido tão atraente antes, o tempo a lapidou
como uma pedra, transformando todas as suas fases em algo interessante. Em seu
auge, teve tantos amantes quanto Lord Byron, mas tudo tem um fim, e ela
desistiu desse estilo de vida.
Lá estavam eles, após
alguns anos, olhando um para o outro caídos no chão. Passaram por inúmeras
distâncias, algumas pelo espaço, outras por causa dos corações despedaçados de
ambos e de seus ex-companheiros. Ele acreditava que o sorriso dela poderia trazer
paz para ele, que o toque dela o iluminava e que sua voz era suave como seda,
fazendo-o se sentir bem. Ela o via como um bom amigo, um dos poucos que a fazia
rir quando estava chorando, alguém que acreditava nela e a compreendia. Ele era
igual a ela, mas ele não sabia. Ela desconfiava, mas como nunca tinha certeza
de nada, nunca teve coragem de dizer.
Mais uma vez, eles se
olharam, mas desta vez não sorriram. Sentiram uma grande vontade de ficar
sérios. O mundo parecia ter parado, o vento havia cessado, deixando um calor
opressivo no ar, como se uma chuva estivesse prestes a cair. Foi passageiro, e
logo tudo voltou ao normal, como sempre acontece.
-Vamos- ela disse. -Temos que tentar de novo.
-Se você diz- ele respondeu.
-Bem, quem está fora é você. Você precisa pular esse
muro.
-É...
Eles se levantaram e
tentaram novamente. Ela deu um apoio para que ele pudesse subir no muro e, em
seguida, saltou para dentro. Entraram na casa e pegaram a chave esquecida sobre
a mesa de centro da sala. A casa tinha o cheiro das lembranças, do perfume dele,
e ela sentiu isso. Depois de tanto esforço para entrar, eles mal se lembravam
por que queriam tanto aquela chave. Nem precisaram dizer isso um ao outro,
apenas se olharam com um olhar perdido. Riram e se jogaram no sofá, relembrando
os velhos tempos. Passaram por tudo rapidamente, afirmando que não lamentavam o
que tinha acontecido, mas sim o que não conseguiram fazer juntos. Havia
promessas não cumpridas, histórias mal contadas e arrependimentos, mas tudo
isso passa.
O telefone tocou em um
canto escuro da sala, ele riu, relutante em atender o telefone e sair dali, mas
o telefone não parava de tocar. Ele atendeu e, de repente, ficou sério,
voltando ao seu antigo mau humor que ela havia visto há apenas um ano. Ela ficou
assustada como nunca antes. Nunca o tinha visto chorar, ele simplesmente não
chorava, jamais. Mas ele estava chorando naquele momento, e ela, que costumava
consolar todos, não conseguia fazer nada além de acariciar sua cabeça.
Depois de alguns minutos, ela finalmente perguntou:
-O que aconteceu?
Ele chorava de forma intensa e descontrolada.
-Ela está no hospital, sofreu um acidente de carro.
Ela era a ex-namorada dele, conhecida como Laura.
-Vamos ao hospital- ela sugeriu, não porque realmente
quisesse ir, mas porque sentiu a obrigação de sugerir.
-Não quero - ele respondeu violentamente.
-Por que não?
-Para que ir vê-la?
-Você está triste por causa dela. Você quer ir lá...
-Não quero. Estou chateado, fiquei com ela por seis
anos!
-Está bem, então faça o que sempre faz, fique aí se
lamentando.
Ela se levantou, ele a segurou, ela tentou se soltar,
mas ele a puxou com mais força, e ambos acabaram caindo. No chão, lado a lado,
depois de um tempo, eles se acalmaram.
-Não vou te deixar agora - ela gritou.
-Nunca? -Ele sussurrou, olhando para ela.
-Nunca deixei, nunca vou deixar.
-Eu te amo.
-É, eu também.
Ambos riram, aquele riso que seca as lágrimas e acorda
a alma. Era como se a primavera tivesse chegado e apagado todas as mágoas.
Novamente, só os dois ali. Até que o telefone tocar mais uma vez ou alguma
obrigação os lembrar que cada um teria que ir para um lado diferente.
:)
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