domingo, 2 de novembro de 2014

Ontem a noite fiz minha garota mudar ou a necessidade de se reinventar.

Hoje senti vontade de escrever, é um domingo o sol esta forte e também tenho vontade de dar uma volta. Também tenho vontade de ficar livre de mim. Isso mesmo, livre de mim. Livre dos sentimentos loucos que tenho tido, desse amor horrível que sinto que me faz chorar,sofrer e me deixa sem vontade de nada. Essa obsessão em querer  ver  a pessoa amada toda hora. Preciso parar de ficar preocupada por ele estar enjoando de mim e não sentir saudades nem querer me ver. A culpa não é minha, nem existem ‘culpas’, ele é assim! Ele enjoa, ele é ocupado, ele não se apaixona. E se um dia ele for diferente com alguém não é por que a pessoa é maravilhosa, é por que ele mudou como pessoa e está em outra fase.
 Essa esperança de que tudo vai melhorar e um dia ele também vai responder “te amo” quando eu falar “te amo”, de que  um dia ele não vai estar cansado, um dia ele vai ter paciência. Um dia ele vai me pedir em namoro, um dia ele vai voltar a me ligar e ter longas conversas comigo por mensagem ou no facebook, um dia ele vai voltar a me procurar. Cansei. Cansei de esperar tudo isso, cansei de esperar mensagem dele dizendo que quer me ver ou que sente saudades. É mais fácil por na minha cabeça que nada disso vai acontecer.
Nosso relacionamento é legal e ele é uma pessoa maravilhosa, mas eu tenho algumas considerações a fazer sobre meu comportamento, que tem que mudar, não que seja errado, mas pelo fato de ambos não estarem no mesmo nível, na mesma onda, nem com os mesmos desejos.
Todo esse amor vou colocar em outra coisa. Existem tantas coisas que precisam de amor. Jamais voltarei a colocar em uma pessoa, pois já vi que assim a probabilidade de um relacionamento dar certo é bem maior. Sem expectativas, sem cobranças, sem saudades, sem querer o ver, sem medo dele. Sem nada, apenas a alegria de que quando estou com ele tudo esta bem e poder aproveitar as coisas boas que ele faz e, claro, fazer coisas legais para ele também, vou continuar gostando dele como ele gosta de mim e demonstrarei isso como puder.Mas não vou surtar pensando em como demonstrar que gosto dele, como o fazer confiar em mim, como, como, como. Cansei também de ‘comos’ fazer. Agora quero pensar em cosmos a fazer.
Tenho que anular esse comportamento sobre o amor, antes que ele me anule. Ontem chorei, e nos outros dias também. Choro toda vez que ligo para ele, por que quase nunca temos conversas legais, as vezes fico esperando uma pergunta do tipo “você está bem?”, ela vem as vezes, as vezes não. Ele me trata como um estorvo, que está sempre atrapalhando, por que ele está fazendo alguma coisa. Eu não acho que ele esteja errado, é o jeito dele, eu também não acho que eu esteja errada, é meu jeito, a questão é que para continuarmos bem e eu ser feliz tenho então que ser igual ele ou vou sofrer pela eternidade. Concordo que melhorei muito, no que diz respeito a relacionamentos, parei com aquela ideia de amor romântico de contos de fadas, parei de achar que só existe um maneira de se demonstrar amor, parei de dividir as coisas em certo e errado e por ai vai.
O amor tem que ser uma coisa legal, uma energia criativa e libertadora, a relação com a pessoa que você ama tem que ser saudável, legal e respeitosa. Tem que fazer bem e ser algo que acrescente algo a sua vida, e não o contrário. Se isso não esta ocorrendo vou tentar me reinventar para poder reinventar e minha relação, uma vez que minha vontade de ficar com ele é imensa. Mas assumo, se nada disso der certo, serei obrigada a me libertar por meio da desistência, coisa que detesto mas reconheço as vezes ser necessário.

Por último, pensei em guardar esse texto, tive medo de que algo ruim acontecesse caso o posta-se no blog, então lembrei que é impossível ocorrerem mudanças se você tem medo de algo, resolvi postar esse texto como um exercício para parar de ter medo, como algo para começar a ,enfim, me reinventar. 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Faísca.

Começa como faísca, esta gera calor,então sopra um vento,leve e suave,porém perigoso,pois traz com ele vários outros elementos, esse vento ao invés de apaziguar o calor faz com que ele vire fogo, após isso vem a primeira explosão, que joga fogo para todos os lados. Altera os estados e mescla os estágios. É preciso se despir: de preconceitos, enigmas e frases feitas. Se despir do pudor e de qualquer sentido.
Mas o calor, aquele calor que não se entende, que vem como ondas de dentro de nós, calor enigmático, aquele calor permanece, e apenas se aplaca com outro corpo, que tenha a mesma quantidade de calor. Enigma da física, mistério da química. O toque que inebrie, e ao mesmo tempo, faça o calor desvanecer, também trará o prazer.
Ficar fora dos sentidos completamente, não entender o que acontece e não saber descrever o que ocorre com nenhuma filosofia ou teorema, gritos com palavras que não formam frases complexas que possam ser estudadas, gritos mudos, delírios. Torpor e contração, combustão interna pelo fogo que emana do corpo próximo ao seu e do seu próprio corpo.

Desejo. Sentimentos opostos, ao mesmo tempo que o desejo é que se continue eternamente aquele exercício você quer também ter o prazer total que apagará o fogo. O mais forte vence, em terrível batalha dos sentidos, apaga-se o fogo, se extingue o torpor, ficam os tremores, e o corpo treme e tenta entender o que ocorreu a ele, mas não se explica. A respiração muda de lugar, respira-se bela boca, pela perna, pelos olhos. É tanta moleza que parece que seu corpo se desfez após tanta energia para terminar essa combustão. E aos poucos ele se reintegra, com cuidado, com medo de nova explosão, com medo do fogo. A respiração volta ao lugar que é dela de direito e o tédio volta ao seu corpo :suas pernas, seus braços, seu peito, sua cabeça voltam a sua função original e tudo volta ao lugar. Até que se encontre outra faísca. 

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Lápis.

Chegar em casa muitas vezes não significa exatamente descanso. Casa é o lugar que se estuda, lê, cozinha, se faz projetos de trabalho. Lógico que também é o lugar onde se conversa, recebe visitas, vê filmes, dorme, toma banho, chora, bebe vinho e se  faz sexo.

São cinco horas da tarde, Lia toma banho e por estar sozinha em casa, por conta do calor e pela pressa em ir estudar coloca um robe, ou penhoar se preferir, de seda vermelha, é uma excelente imitação de um robe japonês, seu comprimento chega um pouco acima do joelho. Após isso ela vai estudar. Duas horas de estudo, pausa para um café, se senta novamente perante a escrivaninha para ler mais um pouco, em meio a leitura lembra do namorado, a frase escrita no livro parece saída de sua boa. Lê mais um pouco, a concentração parece estar escapando, é obrigada a ler duas vezes o mesmo paragrafo para o entender, resolve anotar algo no caderno, a ponta do lápis esbarra de leve em seus seios sem querer, ela faz a anotação necessária, e pensa se precisa anotar mais alguma coisa, tem o péssimo hábito de morder a parte superior do lápis , vai então mordendo a ponta do lápis, devagar e forte, o fazendo girar entre seus dentes, passando a língua de leve enquanto morde, chega a conclusão de que não irá escrever mais nada sobre o assunto, tira o lápis da boca, deslizando devagar a  ponta do lápis para o lábio inferior fazendo uma pequena pressão sobre este e depois deslizando até o queixo e por fim o pondo novamente na escrivaninha e voltando a ler. As roupas feitas de seda tem um pequeno defeito, elas “deslizam” fácil e rapidamente, então caso sejam amarradas com mesmo material o laço feito não dura muito tempo, por esse motivo o robe abriu um pouco mais, deixando o seios praticamente a mostra. Enquanto isso ela lia com avidez. Lembrou de outra anotação, novamente o lápis esbarrou nos seios, sem querer, porém feita a anotação, como se o objeto tivesse ganhado vida própria ,este roçou a parte superior dos seios, abrindo um pouco mais o robe, já bem aberto, pelo lado direito e depois passeando de leve novamente pelo seio direito, pelo meio, assim chegando ao seio esquerdo e desse lado também abrindo um pouco mais o robe e passeando devagar pelo seio e então descendo devagar pela barriga até chegar ao ponto onde estava o laço da fita que amarrava o robe, a outra mão, que não possuía a companhia do lápis, pousada sobre a coxa esquerda, que já estava sem nenhum pedaço do robe, a acariciava e passando para o lado interno da coxa, subindo a mão que roçou de leve no meio das duas pernas para passar para a outra coxa e ir descendo ao poucos pelo lado interno, enquanto isso o lápis subiu novamente acariciando os seios dela, leve, porém direto, pelo pescoço e acabando novamente na boca onde os dentes mordiscavam, dessa vez carinhosamente, sua ponta e a língua roçava com força e, como se ela estivesse em hipnose ou dormindo, onde qualquer barulho poderia a despertar, o barulho de algo caindo no vizinho de cima a despertou. Deixou de ler, guardou o lápis na gaveta e foi se trocar para poder sair.

sábado, 21 de junho de 2014

Musas.

Confesso, eu queria que ele escrevesse contos sobre mim e sobre nós. Assim como qualquer mulher mediana, que é o que realmente sou, que sonha com homens apaixonados e quer ser a musa inspiradora de seu amado ou ao menos ser homenageada em suas criações. Sinto uma dor um pouco persistente no meu íntimo todas as vezes que leio seus contos, foram tantas mulheres, tantas coisas e tantos contos sobre esses relacionamentos, sempre me pergunto: para quem foi esse? Quanto tempo será que durou? Até que todos os questionamentos são interrompidos pelo mesmo pensamento: parecia que ele gostava muito dela, e mesmo assim ele não ficou com ela, parece ter gostado mais dela do que hoje gosta de mim...Aí vem o medo.
A verdade é que eu tenho inveja dessas garotas, que parecem ter feito ele tão feliz e que foram tão amadas por ele, as meninas que ganharam um conto, marcaram a vida dele e foram especiais.
Infelizmente sou obrigada a reconhecer que não o fiz feliz, ele tem péssimas lembranças de mim, sou um completo desastre em relacionamentos. Eu tento com ele mas começo a pensar que somos incompatíveis e eu não fui feita sob medida para ele, como, com toda certeza, alguém deve ter sido feita.
No fim chego a conclusão de que deveria parar de ler os contos que ele escreve, mas como posso parar se sempre espero que um deles fale sobre mim? Apenas irei parar quando tiver a certeza que ele jamais irá escrever ou quando parar de dar importância para isso, afinal é uma bobagem tão grande que eu nem ao menos tenho coragem de falar isso a ele. Mas a vida é feita de bobagens e os romances também. Romances são feitos de pequenos bilhetes deixados na porta da geladeira dizendo: “Eu gosto muito de você sabia?” de pessoas que dizem que estão indo embora mas ficam mais dez minutos do lado da amada, de ligações sem nenhum motivo, de surpresas...Mas ao mesmo tempo romances são muito delicados, coisa boba mesmo, tão delicados que se algo acontece ele pode trincar ou quebrar e então nos deixar sem saber se tem ou poderia ter reparo. E se tiver reparo, quanto tempo vai demorar o conserto?
É hora de parar de se importar com bobagens, isso inclui contos. É hora de se convencer do fato de que musas fazem felizes seus poetas e por conta disso eu jamais poderei ser a musa dele, e jamais terei um conto, inclusive se eu conseguir o ter por perto talvez já seja muito.

  

domingo, 11 de maio de 2014

Ligação.

Ligação
São três horas da manhã, quando o celular começa a tocar sem parar ao meu lado, enquanto me arrumo para dormir. “Estranho, não recebo ligações a essa hora”
Atendo:
-Alô?
-Oi - responde a voz do outro lado - Olha sei que é tarde Katarina, mas você precisa me ouvir.
-Desculpa... Acredito que tenha ligado no número errado...
-Como assim?
-Esse número não é da Katarina...
-Espera... Você está dizendo que errei?
-Olha não é bem isso, quer dizer, as vezes você esqueceu de digitar um número ou o ddd está errado...
-Entendo... Olha a senhorita deve estar pensando que sou algum tipo de idiota e não entendi esse seu tom de sarcasmo.
-Aqui, meu senhor, não te dei o direito de falar assim comigo!
-Falo como eu quiser!
-Como quiser? Tá pensando que está falando com suas quengas? Você me respeite pois não sou só mais uma que você irá destratar!
-Só mais uma? Faça-me o favor! Você é a rainha dos erros e vem me dizer que eu estou errado?
-Era só o que me faltava... Quem está ligando para a minha casa de madrugada desesperadamente?
-O que isso tem a ver com meus erros? Lá vem você de novo com essa mania irritante de mudar o foco de assunto para vencer na conversa!
-Eu nunca fiz isso! Você que foge sempre que a coisa fica mais séria!
-Eu não discuto por besteira, nem discuto bobagens, vou embora quando você começa seu melodrama barato com coisas...
-Bom querido Thomas se você acha que faço Melodrama demais então, por favor, não se acanhe, a próxima vez que for embora não precisa voltar e nem ligar de madrugada!
Um minuto de silencio, consigo ouvir a respiração dele do outro lado:
-Desculpa... Eu não sou o Thomas...
- É, eu... Me exaltei... Desculpa, eu também não sou a Katarina.
-Desculpa foi engano
-Tudo bem, acontece.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Três da manhã

São três da manhã, eu acabei de chegar do trabalho e você deve estar dormindo ou indo dormir. Durante muitos dias pensei se deveria te mandar essa mensagem, optei por mandar não apenas por que acredito que isso vai me deixar mais leve mas também por que eu estava fazendo algo que sempre me deixou chateada e brava quando fazem comigo: eu estava deixando de te dizer algo relacionado a você. Palavras não ditas me incomodam muito e são mais perigosas que aquelas que são ditas. O fato é que tudo tem me feito lembrar você, penso muito em você e sinto muita saudade, você ocupa um lugar na minha vida e tem feito falta nela, muita falta.
Eu entendo sua raiva, sei que está magoado, talvez até com uma ponta de ódio. Existem coisas que não devem ser ditas, mas eu disse, e provavelmente nenhum pedido de desculpas nem nada que eu faça irá resolver isso do dia para noite. Quando lembro o que aconteceu, lembro também de uma frase que me disse ao telefone “parece que perdi um braço”, pois é, acho que aquela noite ambos perdemos um braço. É claro que eu tenho esperança que isso passe, não apenas pelo meu egoísmo mas também por que sei como é ruim estar magoado, já me magoei muitas e muitas vezes de diversas maneiras. Ás vezes é difícil acreditar que um dia isso vai passar, isso tem me matado um pouco por dia, tem dias que tenho esperança, mas na maioria dos dias considero um caso perdido e penso que nunca mais vamos voltar de verdade, que te perdi para sempre e então eu choro até dormir. E no dia seguinte continuo sem saber como você está comigo, pior, sei que você não está preocupado com isso, não está pensando nisso, ou seja existe a possibilidade que você mude pra BH sem que nem ao menos eu te veja pessoalmente de novo ou te toque ou ao menos tenha aquelas longas conversas com você por telefone ou facebook. Estava vivendo de migalhas e implorando por carinho e atenção, por isso parei de te ligar ou mandar mensagens. Por sinal, a última vez que te liguei, aquela vez em que você passou mal de tanto nervoso, era isso que ia falar, não consegui,desisti no meio do caminho.É muito difícil pensar que ficarei sem você.Por outro lado, ando acreditando que estou te fazendo mal, e não posso responder se o mal que te faço é maior ou menor que o bem, então de fato se afastar é o melhor remédio.
Acredito que muito provavelmente toda essa ladainha nem vai fazer diferença para você, claro, sei que se você chegou a ler é por que tem bastante consideração por mim, mas também sei que não é a primeira vez que alguém te fala isso, dezenas de mulheres já te falaram algo parecido e com certeza melhor do que eu, sou tão ruim em me expressar, erro as palavras, sua colocação na frase, a hora de dizer, não consigo explicar nunca o que estava pensando e nem sei argumentar. E doí imaginar isso, por que você e o que você diz ou sente faz toda diferença para mim, não é culpa sua, não posso brigar com você por isso e nem quero, até onde eu sei não se pode mandar nessas coisas. Eu detesto pensar que um dia você vai encontrar alguém que vai fazer diferença para você e que não serei eu.
Eu queria que você sentisse minha falta, queria seu carinho novamente, queria poder dormir olhando para você e acordar com você ao meu lado, queria que você me quisesse ao seu lado, sentisse vontade de me ver. Mas além de tudo isso, queria realmente que você estivesse bem, eu gosto de você, então me preocupo, e sei que independente de mim você não está bem. Se ficar longe de mim te faz bem, se viajar for de fazer bem ou se for algum jogo, vá fazer isso e fique bem. Claro que queria que você ficasse bem ao meu lado, lógico que queria que fosse eu que te fizesse bem, mas pelo andar da carruagem, por enquanto perdi essa chance, se é que algum dia eu a tive. A culpa é minha não consegui te fazer feliz, não consegui fazer você me querer ao seu lado e não te fiz bem.
Querer não é poder.
As vezes eu me pego pensando se algum dia você vai querer me ver de novo, e se quiser, quantos meses ainda vou ficar sem te ver. Penso em todas as mulheres interessantes que te desejam e podem te oferecer muita coisa. Sei que é só comigo que fica, mas e se você perder o interesse em mim? E se eu não te faço bem de jeito nenhum? É melhor se afastar. Mas e se você gostar muito de mim, a ponto desse sentimento ser mais forte que a magoa e resolva ficar? Eu posso te fazer feliz? Querer eu quero.
Você para mim é um enigma, não te entendo, não sei como você pensa nem o que te agrada. Não sei o que sente. Não sei se ao ler isso vai terminar comigo ou vai deixar para lá, nem ao menos sei se vai ler tudo isso ou se de fato você ainda está comigo. Mas eu precisava abrir o jogo, você merece toda minha honestidade. Você vai achar ridículo, você já recebeu milhares como essa e não faz diferença, é só mais uma. Talvez eu seja só mais uma. Mas é isso.

Tenho quase certeza que vai interpretar mal essa mensagem e ficar nervoso. Não fique, eu só precisava dizer o tanto que sinto sua fala e te quero bem. Era isso que queria dizer, só isso.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Estratégia de Guerra

Você irá chegar no portão, irei abrir como sempre faço, abrir a porta e iremos entrar. Caminharemos até o meu quarto. Eu vou sentar na cama enquanto você permanece em pé, perto da minha cômoda começaremos, então, nossa pequena disputa de gênios. Esse maldito jogo que não sei se quero jogar e, por conta disso, sempre perco.
Você, por ser o campeão, e o mestre de cerimonias desse pequeno show, lançará a primeira questão com toda sua calma e frieza:
-O que você tem?
Eu aparentando segurança, cruzarei os braços e rapidamente pensarei numa estratégia para poder pensar melhor em uma resposta. Irei jogar uma das minhas cartas bônus:
-Como assim?
Você já esperava, sou previsível como jogadora, você sabia que eu perguntaria isso. Você sempre fica na dúvida se realmente não entendi a pergunta ou se estou tomando tempo para pensar, tem que ser rápido para responder pois não pode demonstrar dúvida:
-Não sei, você anda estranha.
Na lata. Direto. Gosto disso, mas sei que na verdade tem algo por detrás.
-Uai, por quê?
O uai visa demonstrar uma certa descontração e calma que na verdade não existem, mas minha voz não aparenta. O “por que”, é para ganhar informações antes de responder e ao mesmo tempo te enrolar. Preciso de tempo. Você suspira, pensa seriamente se está a hora de jogar com tudo ou se mantem isso por mais tempo.
-Você está fria, não responde as coisas direito, evasiva!Realmente parece que você não tem vontade de estar comigo e nem queria que eu viesse aqui hoje! A hora que parei no portão quase fui embora quando vi a cara que você estava olhando para mim. Você não quer mais ficar comigo.
Jogou com maestria, agora fico sem muitas opções: ou assumo que gosto de você, que na verdade estou assim pois estou chateada por que isso que você pensa de mim eu penso de você, ou assumo a posição de quem realmente não se importa, essa última significa que posso te perder e encerrar a discussão naquela hora, como também significa manter a discussão e continuar com você.
-Claro que quero ficar com você! Senão não estaria
Você rebate:
-Ah não sei, acho q você não quer me magoar...
-Não tenho motivos para não querer te magoar.
Demonstro meu nervoso nessa hora, o medo de te perder atrapalha tudo, a ideia de que se eu fizer a coisa certa você pode dormir comigo aquela noite  traz uma pressão muito grande. Você percebe e sabe que se fizer a coisa certa ganha o jogo.
-Palavras, mas não é o que sinto entende?
Sua tática é aumentar o meu nervoso, sabe que não iria conseguir me controlar, isso seria um erro e não sei jogar bem depois que cometo o primeiro erro.
-Entendo. Mas você está errado, eu gosto de você! Eu fico chateada também, eu também tenho sentimentos!
Você conseguiu , me irritei, e explodi, falei o que queria dizer há muito tempo, fui honesta.
-Você está tentando consertar.
Eu sei o que ele quer, que eu fique insistindo dizendo que gosto dele demais que não é nada disso...Por outro lado, resta a dúvida, ele estava estranho então, de fato, pode ser que você realmente esteja na dúvida e isso significa te perder e também perder essa guerra. Me desespero.
-Não tenho motivo pra consertar nada. Eu realmente adoro quando você vem para cá, amo sua companhia, adoro ficar com você!
Você percebeu já que me desestabilizou, já viu que vai ganhar, resolve brincar mais um pouco.
-Tá, mas esses dias não tem parecido!
-Como não? Insisti para você vir me ver hoje, te chamei outro dia, lembrei de você na minha viagem, te mando mensagem o tempo todo! Como não parece?
-Tá, mas isso não significa que você queria...enfim.
Eu falo mais umas dez vezes que gosto dele e sou afim dele, estou com raiva e já desisti do jogo, ele percebe que ganhou, mais uma vez.
-Okay! Vou para casa, tenho que estudar.
-Não vai dormir aqui?
-Não prefiro evitar chateações
Sua saída triunfal como sempre, você pois a cereja no bolo, deu xeque-mate em grande estilo. Eu perdi novamente e estou sem chão, sei que enquanto não souber jogar isso jamais vou ganhar, tenho que me esforçar mais, da próxima vez quem sabe...
-Olha fica bem, eu gosto de ficar com você, gosto de conversar com você. Fica bem mesmo, não vá perder o sono.
Ali ele encerra o jogo.
-Pode deixar...Que bom, também gosto.
Abro a porta e depois o portão e ele sai, mais uma vez vencedor. A mim resta o de sempre: dormir com a minha derrota ao invés de dormir com ele. Mas ao menos não perdi a guerra.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Quem paga o enterro?

Houve um tempo em que morrer de amor era considerado bonito, um exemplo de fidelidade, um exemplo de amor verdadeiro. Consigo imaginar as pessoas comentando:
-Isadora, filha da Aninha, morreu ontem.
-Morreu? Do que?
-Morreu de amor, desde que Gustavo da Chiquinha foi embora ela estava definhando, tadinha, não comia, não bebia...
Um diálogo no mínimo estranho, porém existem piores, um exemplo é da mulher de uma cidade do interior do Ceará que ficou, dizem as más línguas, esperando até o dia de sua morte o amor da vida dela sentada na janela com um vestido de noiva. O mesmo já ouvi dizer de Manoela de Paula Ferreira, ex-amante de Garibaldi, que trocada por Anita, que viria a se tornar Anita Garibaldi, jamais se esqueceu de Garibaldi e o esperou até o fim dos dias na janela da estância de vestido de noiva. Imagens poéticas para colorir o sofrimento e as dores que o amor causam, e claro, mais uma vez reafirmar a beleza de se sofrer por amor, coisa antiga já feita por trovadores na idade média. Malditos trovadores, talvez se não fossem eles esse texto nem estaria sendo escrito por que nós nem veríamos o amor como vemos.
O fato é que hoje em dia amar e ser amado é artigo de luxo, morrer de amor então é para quem pode pagar por isso, em outras palavras como já dizia a poetisa Natasha Anythisk “Amor demais é falta do que fazer”. Morrer por amor além de ter virado uma lenda (assim como o próprio amor, que para muitos é igual Caviar “nunca vi, nem comi, eu só ouço falar”) não é algo prático, digamos que é considerado uma grande frescura. Vivemos em um mundo onde essas coisas de sentimento em excesso não são bem vistos, pessoas muito afetuosas, muito meigas infelizmente muitas vezes não se dão bem na vida, todos nós já vimos uma situação onde pessoas encontram alguém que os ame perdidamente e faz tudo por elas, a primeira atitude delas é ignorar a pessoa e desfazer dela. A maioria das pessoas não sabem ser amadas, porém isso, talvez, seja assunto para outro texto. O fato é eu vivemos em um mundo prático e rápido, se você escolhe definhar em uma cama então é bom que tenha alguém pra pagar seu aluguel ou suas contas, você não pode simplesmente chegar no supermercado e dizer que está sofrendo de amor portanto não irá pagar as compras, ninguém te deixaria em paz para morrer por amor, e seu sofrimento seria menosprezado e viraria motivo de piada para todos. Fico imaginando que se alguém chegar para mim e dizer que alguém morreu de amor minha primeira atitude seria rir, e uns dez minutos depois, talvez, eu diria que sinto muito, se o caso fosse comigo, ou seja, eu morrer de amor, minha mãe me mataria depois de morta e diria ”Isso menina é para você aprender a não ser burra”.
Amor de homem para mulher apenas sei que existe por que já vi mais de um caso de casais que se amam, por que não existe outra explicação para o que eles sentem e de como agem um com o outro. Eu mesma nunca fui amada por homem nenhum. Menos mal, sei que ninguém vai morrer por mim.
Em contrapartida, por incrível que possa parecer, uma Universidade da Califórnia descobriu que isso existe, e que as pessoas podem morrer de amor, e morrem. Segundo eles a pessoa tem algo parecido com um infarto de simplesmente desfalece. A mesma universidade vem a anos tentando provar cientificamente que o amor existe, e que é uma fusão de processos químicos que ocorrem no corpo e cérebro. Claro que a imagem de processos químicos é bem menos romântica que a de uma senhora vestida de noiva esperando o amor de sua vida, e eu até acredito que ambos acontecem.
Porém com ciência ou sem ciência o fato é que até morrer de amor hoje em dia nos foi vetado e não é considerado bonito ou emocionante e sim uma eterna burrice, nunca vi ninguém morrer por amor nos dias de hoje. Eu, particularmente, caso seja acometida por tal doença num mundo frio e calculista como o que vivemos só me questiono o seguinte: quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores?[1] E como já sei que a resposta é ninguém, prefiro nem imaginar em me envolver, para não ter esses problemas chatos e dar mais trabalho morta do que dei em vida.




[1] Vínicius de Moraes, Hora íntima.