Carta 1

São Paulo,23 de dezembro de 2013

Querido Allan,

Até onde vai a esperança, a dor, o sofrimento e a vontade de que aquele outro alguém te ame?

Está tudo relacionado de certa forma, ao menos para mim. O meu corpo reflete as aflições e tristezas da minha alma, minha alma pega fogo e eu sinto um calor inexplicável, porém não é o fogo da paixão que faz minha alma arder, é o fogo de uma dor inexprimível, uma dor que sentimos quando sabemos que somos impotentes diante de algo, é o fogo que queima tudo que vê pela frente, tudo que um dia já foi construído. Sensação de fim dos tempos, sensação de dor iminente, sensação de falta de amor.

Sinto falta dele, doí essa falta, mas ainda há dúvidas se isso é amor ou apenas a minha mais nova obsessão, a minha mais nova arma contra mim mesma, meu novo instrumento para fazer meu ego sofrer. De qualquer maneira não importa, eu espero que ele mande mensagem, eu espero ele ligar, eu espero o dia que ele quiser falar comigo. Existem limites, eu já não consigo mais correr atrás dele, eu preciso parar, estou sendo sufocada por sufocar alguém. Não gosto disso, nunca gostei, e agora sufoco alguém. Mando mensagens todos os dias que as vezes são rispidamente respondidas. Disse a ele que agora ia esperar ele me procurar, já fazem alguns dias e não obtive uma mensagem, uma resposta. Geralmente de manhã penso que ele não virá me procurar e vai considerar tudo terminado assim que se interessar por outra, de tarde acho que eu deveria ir atrás dele e conversar e pela noite acredito que ele irá me responder a qualquer minuto e que era tudo bobagem.

Hoje vi um texto que ele escreveu sobre nosso primeiro encontro e chorei, chorei também quando vi o novo texto que ele escreveu, sobre outros encontros. É triste ser apenas mais uma na vida de alguém, e não consigo saber o que é pior: ser mais uma ou não ser nada. Ou se é a mesma coisa.

Querido, ele jamais irá me amar, jamais para ele serei algo além, errei em alguns aspectos com ele, e com toda certeza isso ajudou a construir essa situação atual, mas creio que onde mais errei foi em me apaixonar.

Mando essa carta como desabafo, você é o único que quando ler irá entender pois além de sermos iguais em desgraça, foi você o primeiro que me avisou que um dia eu passaria por isso. É terrível quando você está certo.

Espero que você esteja bem.

Com amor,

L.D.D

Quase Reptilia...

O quarto está em chamas enquanto ela arrumava o cabelo (nua, em frente ao espelho).Era como se não existisse coisa mais linda do que ela, ao menos não existia naquele momento(por favor, continue, mexa as mãos entre seus fios ,sorria e me olhe como se estivesse fazendo algo que não contaria a seus pais),o mundo parou e ninguém me convenceria do contrário. O sol entrava pelas janelas e ia de encontro com o corpo dela e o reflexo do espelho (O quarto pegava fogo), minha cama começou a arder em chamas e eu junto com ela, tinha que me salvar, e seria possível, apenas, se eu toca-se no seu corpo em chamas (isso não faz o menor sentido) eu esperei e quando ela acabou de arrumar o cabelo eu, em desespero, a agarrei. Ela disse:

-Você parece tão bravo! Simplesmente se acalme, você me achou!

Achei? E ela era a rainha das chamas e dos raios de sol (porém era a noite que ela mais brilhava entre a vertigem dos trilhos de metrô e das garrafas vazias de gim, entre as gargalhadas dos bêbados e entre o piscar irreverente de luzes.)

O quarto estava em chamas enquanto ela arrumava o cabelo e meus olhos brilhavam apenas para refletir a beleza dela, que se vestiu e pegou a bolsa (o que foi que eu perdi?), eu disse algo como: Por favor não vá! Igual a uma criança.

-Eu pensei que havia lhe dito. Esse mundo não é para você.

Seu riso vago cobriu o quarto e a sala, saiu com seus passos trépidos. Que mundo? O dela? Existia mundo sem ela?

Pupilas

Rebeca era uma menina bonita, terrivelmente ansiosa e catastroficamente sentimental. Ela ficava com um cara, era tudo maravilhoso. Ele era ótimo, atencioso, amoroso e parecia estar afim dela. Ela também estava a fim dele, então tudo estava perfeito. Um dia os dois brigaram. Depois de esperar algum tempo ela resolveu ir atrás dele, se reconciliaram, porém, a partir daí, nunca mais a coisa foi a mesma. A pessoa atenciosa que ele era sumiu, ele ia a casa dela esporadicamente, já não saiam juntos, ele não ligava, nem mandava muitas mensagens, vez por outra conversava com ela pela internet, mas não publicava nada sobre ela, como fazia antes, pararam de dormir juntos, pararam de fazer sexo, conversavam um pouco e depois ele ia embora, alegava cansaço, preguiça, alegava tudo que podia para não conversar com ela por muito tempo, nem ficar muito por lá.

Ela, por sua vez, sofreu alguns dias e depois foi enjoando. Aquele relacionamento estava chato, não gostava de nada que fosse chato. Por outro lado gostava dele e então se viu sem saber o que fazer, afinal, ela podia estar errada, ele ainda podia gostar dela, só estava um pouco diferente. Sei lá. Existem milhões de coisas que mulheres amam falar a si mesmas para se confortar/iludir. No supra sumo de seu desespero leu que quando as pessoas estão apaixonadas suas pupilas dilatam,era fato cientificamente comprovado. Ela se tornou uma obsessiva pelas pupilas dele, tinha que ver se elas dilatavam, se estiverem dilatadas ainda existia salvação!

No dia quatro de fevereiro de 2013 por fim ele foi a casa dela e ela olhou na sua pupila. Não estava dilatada. Na hora que ele estava saindo ela o chamou e disse:

-Foi ótimo enquanto durou nosso relacionamento e tudo mais, mas não dá mais, infelizmente queremos coisas opostas.

Ele sem entender a olhou e perguntou:

-Por quê?

-Sua pupila não estava dilatada.

E após responder isso ela fechou o portão, a porta e nunca mais quis ve-lo novamente. Ele achou que ela era mais uma das várias mulheres loucas que já tinham passado pela vida dele. Enfim vai entender, vai ver que no fim todas as mulheres dele só ficavam loucas depois que descobriam que a pupila dele não dilatava.

Engraçado é que nenhuma delas ao menos de dignou a explicar o fato para ele, caso o tivesse feito descobriria que ele tinha um raro problema ocular: suas pupilas nunca dilatavam.

Eu quero ser esquecido, ela quer ser admirada...

Existe uma música do Strokes chamada “What ever happends?”. Toda vez que a ouço, lembro de mim e de alguns amigos próximos. Nossas situações amorosas são parecidas com partes dessa música. Claro que ao colocar essa trilha sonora em nossas histórias amorosas estou florindo uma desgraça, pois é isso que é o amor: uma desgraça e a paixão é uma praga. Porém a paixão consegue ser melhor que o amor. Ela passa. Nossas vidas não se resumem a amar e ser amado, não somos tão carentes ou inocentes assim, mas a grande maioria de nós já provou o fel do amor e quer esquecê-lo com uma entrega carnal ou com ambições fatais. Não somos bons o bastante para o amor, ou não é esse o ponto?

O que, entre nós, mais bebe desse cálice e sem recusável medo o assume não é o mais feliz sempre, mas o mais feliz temporariamente, ele nos prova todos os dias que o amor não é felicidade, que o amor é o amor e ponto, único e independente nada se compara a ele e nada é ele. Eu já fugi, todos fugimos, e já fomos de encontro a esse sentimento e nada ainda deu certo.

Nos rasgamos e nos enterramos em bares por isso, desejamos queimar a casa ou cortar os pulsos, nada adianta, nada vale quando se sente isso. Nós continuamos nos desencontros da música, brincando de chegar e partir, se envolver e correr, cair e carregar, até, por fim, esquecermos o amor ou preencher o vazio que sua falta nos faz.

Moços e maçãs

Ali estava ela, novamente, fazendo a feira semanal, cansada e desanimada: o dia tinha sido insuportável. Mas precisava fazer a feira, comprar frutas e suas verduras pro almoço do dia seguinte, além disso o varejão era quase ao lado de sua casa.

Já havia comprado tudo e estava chegando no caixa, quando de repente viu uma maçã vermelha. Não uma maçã vermelha qualquer, uma maçã argentina, grande e bem vermelha, era tão linda que parecia de mentira, era o tipo de maçã que faz com que todas as outras se tornem feias e insossas. Igual aquelas mulheres que são tão lindas e espetaculares que quando chegam em um lugar fazem com que todas as outras percam seu brilho. Isso era aquela maçã. Sem pensar duas vezes ela se encaminhou para a maçã, estendeu a mão e sentiu uma outra mão encostar na dela. Olhou para o lado, eram as mãos de um homem.

-Desculpa, pode ficar com ela moça.

-Não, tudo bem, pode levar. . .

Se olharam por dois minutos rápidos.

-De verdade eu insisto, eu não tinha visto que você estava vindo pegar. . .

-Eu também não.

Os dois riram.

-Pois é . . .Mas por favor leva a maçã.

-Bom está certo, eu realmente gosto muito de maçãs então vou aceitar a proposta.

Ela pegou a maçã.

-Obrigada moço.

Sorriu.

-Imagine, não por isso. . .

Ele também sorriu e se virou para ir fazer o resto das compras, ela continuou seu caminho até o caixa. Pagou as compras e saindo do varejão pegou a maçã e a mordeu com desejo. Esse tipo de desejo que vem como fogo. Mordeu a maçã como se estivesse mordendo as costas e as mãos do moço que havia visto.

Comeu até o caroço. O desejo da maçã passou, o de morder o moço não.

Fim de jogo.

Não deu certo. É tão simples. . .e por outro lado tão complexo. Sempre se pode questionar o por que de ter dado tudo errado assim. Ou simplesmente deixar para lá. Eu como sempre não sei o que faço, então choro descontroladamente.

Sei que vai passar. Até o final dessa semana já esqueci ou melhorei, até o fim do mês já me recuperei completamente, esse é o lado bom de ser inconstante.

Decido por fim sumir por completo da vida dele, por que já sei o que ele tem a me dizer, e não é bom, vai me fazer sofrer, prefiro evitar. É isso mesmo que ele quer, que eu suma. Ele tem trauma de mulheres que correm atrás dele, farei o favor de não ser mais um trauma para ele. Sumirei. Essa é minha melhor mágica, meu melhor número. Depois do drama.

Quero acreditar que é mentira, quero acreditar que estou exagerando, quero por tudo no mundo que ele apareça e diga que exagerei, que estou errado e não é nada disso. Mas duvido muito que isso ocorra. Foi tão rápido que nem posso dizer que ele seja uma decepção. E de qualquer maneira, foi bom enquanto durou, mesmo que tenha durado apenas duas semanas.

Rabiscos I

Uma folha em branco e pelo menos mil ideias na cabeça.

O que escrever? O conto, a cena, meus dilemas? Tudo junto?

Escuto música no quarto e o pensamento está nele, me incomoda pensar tanto nele. Ele não pensa assim em mim e hoje sumiu. Todos precisamos de espaço, não vou atrás dele, nunca se sabe o motivo do sumiço alheio, diz o próprio. Tem festa hoje e nem sei se estou animada para isso. Vou por que vou. Só por isso, sem expectativas, por que vai ser tudo igual: Beber, festa e casa. Tem vezes que entre isso ocorrem coisas, mas hoje duvido, não existe sexo, pois não tem pessoas que me interessam, não tem escândalo por que já fizemos tanto que as pessoas se acostumaram, não tem esperança de achar o amor da minha vida por que não acredito nisso e nem quero. Poderia me apaixonar... Mas já estou apaixonada por uma pessoa que some. Pior, eu também sumo as vezes, só que não costumo voltar muito bem quando sumo. E ele?

Não sei, ainda estou descobrindo as delicias de um amor que começa tranquilo, e é difícil ter calma quando se é desesperada, é difícil resumir as coisas, respirar fundo e não fazer nada. Deixar as coisas correrem por si só é bom, mas dá mais trabalho do que fazer as coisas.

Quero mandar mensagem, quero rabiscar as paredes, quero sair correndo, pegar o carro que não tenho e ir atrás dele. Exagerei agora. Tira a parte do carro. Quero dançar para dissipar toda minha energia, quero beber até esquecer o gosto dele, esquecer que minha pele está ardendo por ele, quero falar com meus amigos. Desejo ser dramática agora. Quero esquecer que tenho compromissos. Quero não responder as mensagens dele, quero ser meu próprio sol, por que ai, quando eu for meu sol, não haverá mais eles, nem elas. Apenas eu. E isso sim seria a coisa mais linda que já vi na vida. Eu seria meu maior amor, então por que desesperar pelos outros?

Fumo, me acalmo, escrevo três contos, minto neles, crio uma realidade que não existe, mas nem por isso deixa de ser interessante. Suspiro, passo a mão pelo corpo. Devia ter ido na academia, mas dormi, devo estar cansada. Devia estar me arrumando para sair, mas estou escrevendo. Tudo atrasado, sempre. Como pode isso?

Minha mão para na coxa, eu a aperto com força, abro as pernas. . .Essa noite dormirei sozinha. Me jogo no colchão.

Daqui umas semanas já não serei a mesma, já não irei querer a mesma pessoa. E se quiser? Já não serei a mesma, vou querer de outra maneira. De modo geral minhas paixões duram menos que os leites da minha geladeira.

Essa noite eu poderia dormir acompanhada. Mas não quero. Quero ele e quero a mim. Não sigo adiante enquanto eu não puder ser meu sol, enquanto eu não me iluminar e não perceber que a coisa mais importante na minha vida sou eu, e que é por mim que tenho que fazer tudo.

Vou me arrumar, espero que não faça frio hoje e que as bebidas estejam boas.

Falência emocional.

Por que me enfiar em algo que sei que é falido?

Me pergunto quantos avisos ainda irei ignorar, e quantas vezes irei tirar as cartas do Tarot atoa. . .

Canalhas que escolho sabendo que são canalhas ou homens que sei que jamais vão se relacionar de fato, e mesmo assim eu insisto. . .Quantas vezes mais eu irei fazer isso

As vezes pareço estar em um pesadelo, bem no meio da bipolaridade emocional, o problema é comigo! Eles são apenas instrumento da minha falta de senso e noção. . .é tão simples! É apenas não os escolher, não se envolver, mas eu me envolvo. Me envolvo por que sempre acredito que vai melhorar, me envolvo por que acredito que as coisas se encaixam:

-Daria tudo tão certo, se não fosse tal coisa!

Eu ignoro a “tal coisa” fecho os olhos, tamanha é minha vontade para que dê certo. Está na hora de sair correndo de mais um relacionamento assim. E para onde devo correr? Para onde ir quando não se quer sair do lugar?

As vezes acho que faço isso para me maltratar, sou meio masoquista, não tem outra explicação. Ou tem? Me perco nas palavras, me perco no mundo que eu mesma crio, sou dramática  e no fim volto sempre ao mesmo ponto. As mesmas coisas, as mesmas relações falidas e os mesmo erros.

Mas há o que me consola, eu também sou toda errada em relacionamentos, sei que mais ou cedo ou mais tarde vai acabar, eu não vou querer mais, me apaixonarei por outro, quantos homens prenderam minha atenção por muito tempo? Quantos homens derramaram lagrimas de mim por muito tempo? De quantos senti saudades infinitas?

Sou tão instável quando os homens que passaram pela minha vida.

E agora novamente é hora de fugir mas meus pés não querem sair do lugar. . .Então tenho um pontapé inicial, tão simples é só não voltar atrás, continuar caminhando sempre em frente e esquecer, mas eu insisto em olhar para trás, eu quero de qualquer maneira voltar e bagunçar tudo de novo!

Na verdade, agora mesmo eu quero paz. Está na hora de insistir em mim mesma, então vou sair correndo, de novo. E por quantas vezes mais forem necessárias.

Pontos de vista.

Estávamos conversando, bobagens, mulheres e futebol. Quando Mateus disse:

-Mulher louca é um problema, e, na boa eu atraio esse tipo!

-Você atrai de tudo!

Rimos. Mateus continuou sério, parecia que queria algo, mas não conseguia expressar. Respirou, e disse:

-A Camila me mandou uma mensagem esses dias para trás, devia estar bêbada.

Silêncio total. Isso era inacreditável. Camila era a menina por quem ele estava apaixonado correu atrás dela igual louco, ela nunca quis nada: primeiro por que ficava comigo uma época, depois começou a namorar outro e por fim, meu amigo desistiu. Ela nunca mostrou interesse, até esse dia.

-Ela mandou mensagem dizendo que queria ficar comigo, estava apaixonada, essas coisas... No final da mensagem mandou um beijo e se cuida. Eu ri. Sério, achei graça. E mais ainda quando  disse que não havia sido ela quem mandou e sim um amigo. O pior é que na boa, ela nunca demostrou nada, desisti, louca ela.

-Ela não é normal, todo mundo sabe, mas isso não é habito dela.

-Como pode saber? Conhece alguém que já ficou com ela?

Silêncio. Conhecia, claro, eu tinha ficado com ela por um tempo, lógico, era só sexo e sempre fomos bem claros em relação a isso. Se bem que mulheres amam confundir as coisas quando se trata disso. Ela não. Foi ótimo e quando deito na cama, a noite, lembro dela. Todas as outras que vieram depois só deram trabalho, e nem eram tão gostosas como ela.

-Você tem razão, não conheço ninguém que já tenha ficado com ela. Bom hora de ir embora. Terça aqui no mesmo horário?

-Com toda certeza amigo! Até.

Sai, peguei meu carro e fui andando e pensando. Fiquei pelo menos uns três meses com a Camila, ela nunca havia me mandado uma mensagem. Uma única mensagem que fosse. Sobre qualquer coisa. Me procurava, e sempre era bem direta, eu sabia que ela queria era me ver e acabou. Nunca disse que estava apaixonada ou qualquer coisa do tipo. Será que eu não era o tipo de pessoa que despertava isso nas mulheres? Mateus tinha mesmo uma quantidade considerável de mulheres loucas que o procuravam. Ou ele que as deixava loucas? E eu por que não deixava? Camila uma vez disse que gostava de ficar comigo, minha companhia era agradável. Se não me engano foi esse o termo que ela usou... Mas pelo jeito, não agradável o suficiente para que alguém ficasse louco por mim, nem mesmo Camila.

Camila nunca havia me mandado uma mensagem.

Foi então que pensei: Mateus é feliz e nem faz ideia. Quem me dera encontrasse uma louca que me mandasse uma mensagem dizendo que estava apaixonada por mim.

Gelo seco.

Aprendi, de fato, muito pouco sobre relacionamentos e afins, na vida. Apesar de ter tido inúmeros casos, namoros e amantes. Uma coisa muito triste que aprendi é: homens não gostam de mulheres que lhe dão muita moral, que ligam toda hora e se mostram imensamente apaixonadas. Eles fogem,  enlouquecem, eles te mandam embora da casa deles. Foi uma experiência empírica, mais de uma, que tive nesse sentido.

Por isso hoje, enquanto você conversa comigo finjo não estar prestando atenção e quando você me manda mensagem no celular, ou no facebook, enrolo toalhas, escrevo esse texto, eu abotoo todos os botões da camiseta, desabotoo e abotoo de novo, apenas para dar um tempo grande para te responder. Por esse mesmo motivo não elogio tudo que você faz, e não fico falando tudo que temos de parecido, apesar de termos muitas coisas. Já deve estar claro que não te chamo para vir me ver todos os dias, e alguns dias que você se oferece eu nego também por esse motivo.

É triste a vida, mas o ser humano ama um desafio e adora a infelicidade, se eu te der a felicidade de ter a mim em seus braços, e eu me tornar completamente tua, quanto tempo você acha que ficaria comigo? Quantas horas durariam nosso romance? Tão pouco que nem daria para uma foto, garanto.

Então eu me deixo enrolando toalhas enquanto você conversa comigo pela internet e assim me distraio um pouco desse amor e te faço achar que minha paixão por você também é distraída.

Fica vai ter bolo!

É desejo. Poderia ser amor, poderia ser paixão, poderia ser um simples querer. Mas é desejo e desejo arde até as entranhas. E ardia.

A noite estava gelada, ventava como há anos eu não via, as luzes nos postes me deprimiam, parecia que eu havia voltado a São Paulo. E a lembrança do seu beijo era uma pequena luz no meu peito, que não me deixava ficar tão fria. Cheguei em casa vi sua mensagem e o que era uma pequena luz aumentou, agora eram faíscas internas. Tomei banho, fiz um chá e comecei a ler deitada na cama, deitada do lado que você se deitou quando esteve comigo, a faísca virou labareda, aos poucos me vieram as lembranças das duas noites que se passaram... Os toques, os beijos, as mordidas na coxa e nas costas. Meu peito nas suas costas, e seu peito nas minhas. A expressão de prazer estampada na sua cara, os movimentos delicados e bruscos. Você pegando na minha cintura, arrancando minha roupa, me pondo no seu colo arrancando meus suspiros e tirando meu fôlego. Me fazendo perder a respiração e os gritos não reprimidos de prazer, a batida da minha mão na parede, o leve arranhar nas costas. O beijo, novamente. O beijo e o suspiro.

A conversa deitados na cama, por horas. Não lembro o que durou mais, se foi a conversa ou o sexo, ou o perfeito conjunto dos dois. Também não sei o que foi melhor. Mentira, eu sei, foi o sexo, me deixando louca. Me fazendo arder durante a noite e morder os lábios e dedos quando lembro de você. Quero mais e quero de novo, claro. Então por que não lhe responder a mensagem que me enviou, dizendo:

-Fica, vai ter bolo.

Conversa de Facebook.

-Eu juro por Deus que você fica com outra. Então por que dizer que tem ciúmes?

E ele ficava, de verdade, inventou mil desculpas que nunca, jamais me enganariam. Ainda mais a mim. Eu que já traí, que tanto fiz, que tanto já amei. Continuei. De fato o jogo era interessante. Mas todo jogo cansa, eu cansei. Gostei dele, eu o queria, era bom, era gostoso, era sexo selvagem às três da manhã. Quem não quer?

-Queria ter dito há um tempão.

Por que não disse? Tantas outras coisas foram ditas! Quantas vezes esbarrei contigo: no sinal em pleno transito, nas lojas, na faculdade, na escola, na rodovia, na avenida, nos bares, nas festas e nas casas de amigos?

Que desculpa você poderia inventar agora? Como me enrolar? Me surpreenda! Juro que sempre fui sua, e, se me surpreender continuo com você, mas você precisa de mais, então dê seu melhor, por que eu estou aqui na espera dele.

-Oportunidade.

Não me surpreendeu, não me convenceu, nem fez cocegas, nem me fez rir. Decepcionante. Tudo que queria era uma boa desculpa para cair em seus braços, nem isso você pode dar. E agora o que faço? Não quero mais ficar com você, foi chata sua conversa, suas desculpas horríveis, você não é bom em mentir. Péssimo cafajeste. Mas sério, eu gostei de você, se tivesse sido mais firme, se tivesse ficado só comigo, poderíamos ficar juntos. . .Ou não. Mudo rápido de ideia.

Mentira, quem quero enganar? De qualquer maneira, antes que consiga terminar esse texto você já vai ter me deixado falando sozinha, completamente sem rumo. Juro que não sei por que insisto em querer você. Minha amada maldição. Saia enquanto eu durmo, por que senão, não o deixo ir, e apague as luzes por que dormindo eu não tenho medo do escuro. E antes que me esqueça, ela nem é mais bonita que eu, nem tão boa de cama assim. Mas fica com ela, a estabilidade é uma qualidade que ela tem e eu não.

Boa noite. Beijos.

Tudo que é solido fode nosso ego.

Já diz o velho ditado: “Nada está tão ruim que não possa piorar”. Isso aumenta em ordem exponencial, quando se trata de relacionamentos, e multiplique tudo isso por quatro se o relacionamento é do tipo “Estamos, só, nos pegando”.

Sim, tudo pode ir por água abaixo na hora que você menos espera, hoje estou culta então lá vai mais um ditado: “Tudo que é solido se desmancha no ar”. Fica a dica, as coisas são passageiras e estranhas e na maioria das vezes não vale a pena se preocupar ou se apegar, isso vale para homens e mulheres, não pense que está ileso ou ilesa, você não está nunca.

Pode ser que tudo termine, que você desencante, descubra que foi traído ou que mentiram para você e dessa forma você acha impossível manter a relação e pode ser que aconteça o pior, que é quando você não sabe o que aconteceu. Claro que existem possibilidades. Mas na maioria das vezes como já dizia Rita Lee: “Tudo vira bosta”.

Conheço infinitas e inúmeras histórias de pessoas que já passaram por isso e daria para escrever um livro, uma coletânea, várias peças de teatro.

Só que esse assunto também traz um problema: ele cansa fácil, enjoa os mais velhos e só serve no final para indiretas no twitter e facebook, e para vender livro para meninas pré-adolescentes que acham que o mais importante é o sofrimento delas. Ou seja, a coisa é tão ruim que nem para escrever livros serve.

O fato é que já vi pessoas que tinham duas mulheres na mão e de repente nenhuma, já vi uma menina que namorava, arranjou um amante, terminou com o namorado por causa dele e o amante terminou com ela para ficar com outra. Há o caso clássico do menino que fica com todas as meninas só por sexo ai acha uma menina que faz a mesma coisa e o deixa louco.

Uma conhecida namorou sete anos e um dia, num bar, se apaixonou perdidamente pelo garçom, ligou para o namorado na hora e terminou. Ficou com o garçom sete meses e depois ele a trocou por outra, ela diz que valeu a pena, logico, que ela disse isso depois de um mês chorando e bebendo no mesmo bar.

Eu acredito no seguinte: “tudo vale a pena se a alma não for pequena”, como já dizia Fernando Pessoa, mas é bom que o coração seja menor que a alma, assim, só por garantia.

Fichadoce

Aquele lugar tinha um cheiro estranho e acre, havia um ventilador no teto que parecia que apesar de rodar não melhorava em nada o calor que estava ali, passei a mão pela cabeça, pensei em o que mais poderia ter cheiro acre.

-Próximo.

A atendente falou em tom monótono, voz de quem não gosta do que faz e está inteiramente cansada. Olhei em seus olhos,eram castanhos, cabelo cacheado, castanho claro, mascava um chiclete insistentemente na boca, e fazia tchã tchã tchã tchã , não olhava nos meus olhos com aqueles óculos de aros redondos e fortes apenas digitava tlec tlec tlec tlec. Perguntava:

-Qual seu nome?

-Frederico.

-Idade?

-31.

Ela levantou os olhos como se me analisa-se, lentamente para ela, mas muito rápido para qualquer outra pessoa notar , eu notei, apenas eu. Ela nem percebeu, voltou os olhos para o computador a tela era refletida nos seus óculos (Quantos graus será que ela tinha?)Sua boa era bem vermelha (e mascava o chiclete sem parar). Senti uma profusão de cheiros doces vindo dela, ela emanava eles de forma natural , era gostoso e me fazia sentir num tipo de feira de doces. Eu adorei isso.

-Situação?

-Como?

-Casado, solteiro, viúvo . . .

-Solteiro.

Vi um sorriso leve começando a se formar na ponta dos lábios,como se pensasse em, algo comigo, algo além de uma ficha de cadastro. . . Mas o sorriso foi logo apagado, decerto pelo pensamento da rotina.

-Filhos?

-Não

Ela continuou perguntando, CPF, RG, Título de eleitor, Carteira do serviço militar, eu tinha passaporte? Não.E aquele cheiro doce me angustiando, minhas pernas não queriam se mover , vi de leve seus seios, eram grandes e marcavam a roupa do uniforme branco, ela usava jeans e estava com as pernas levemente abertas, não olhava para mim.De repente parou de digitar se encostou na cadeira e falou sem pestanejar me olhando com as mãos paradas na perna:

-Pode esperar que mandaremos a solicitação em breve na sua casa .Se dentro de 30 dias ela não chegar o Senhor. . .

-Você- Interrompi com um sorriso.

Ela suspirou veementemente e continuou:

-Você, pode voltar aqui e nós veremos o que podemos fazer.

Parou e me olhou com olhos de quem esperava que eu disse-se algo, eu inebriado por aquele maldito cheiro doce que vinha dela:

-Tudo bem.

Sorri .Ela deu um sorriso de tédio , suspirou se arrumou na cadeira e disse:

-Próximo.

Eu sai para dar lugar ao próximo, ouvi o tlec tlec tlec dela ao fundo e as mesmas perguntas até chegar a porta e sair. Meu Deus como ela era doce!

Não se reprima

São sete horas da manhã. O telefone toca. Do outro lado:

- Bom dia !Aqui é o coração telemensagem, e nessa data especial alguém que te ama lhe enviou uma mensagem, gostaria de ouvir?

-Gostaria , quem enviou?

-A Anita!

-Okay. . .

-Gostaria de ouvir senhorita?

-Gostaria

Então veio aquela música de fundo de elevador e aquela voz dizendo:

-Desejo a você tudo de bom, que nessa data tão especial você possa receber tudo que deseja e realizar todos os seus sonhos, que haja amor e prosperidade em sua vida e muita luz no seu caminho. São os votos de Anita.

-Nossa muito bonita a mensagem-respondi- Mas é. . .

-Ela também gostaria de lhe oferecer uma música . . .

-Olha fico muito emocionada, mas . . .

-É a música da Britney Spears! Sua cantora favorita!Você gostaria de ouvir?

-Olha gostaria . . .

-Só um minuto!

O telefone emudeceu, pensei em desligar, ainda estava com tanto sono e pior eu nem gostava de Britney . . .Mas a Anita tinha se esforçado para mandar aquela mensagem, permaneci na linha.

-Olha não tem Britney Spears, vamos lhe mandar uma musica do Menudos , ok?

-Então moço, é o seguinte hoje não é meu aniversário, tem certeza que essa mensagem é para mim?

-Claro que tenho!Então pode ser Menudos?

Droga, a Anita havia errado o dia do seu aniversário. . .

-Okay, pode ser Menudos. . .

Veio então a música

Vá em frente, entra numa boa
Porque a vida é uma festa
Não controle, não domine, não modere
Tu. . .

-Senhorita desculpas mas acabamos de ver que houve um erro aqui . . .

-Tudo bem, mas será que você não podia deixar a música até o refrão?

Silêncio do outro lado da linha. . .

-Bom acho que tudo bem, mas não comenta com ninguém por favor?

-Não pode deixar. . .

Então eles puseram a música de novo.

Deixe que a mente se relaxe
Faça o que mandar o coração
Por isso
canta, dança, grita ô ô ô ô ô ô ô

Não se reprima
Não se reprima
Não se reprima.

Abacaxi

Fernando namorava uma menina que chamava Ana Maria Da Silva Fernandes , menina bonita, tipo comum, nada demais, a inteligência também não era nada demais, ela era assim normal.

Um dia ele estava no supermercado e viu que o abacaxi estava em promoção, lembrou que Ana amava abacaxi, que desde que começaram a namorar ele sempre a via comendo abacaxi, resolveu comprar quatro abacaxis para ela, querendo fazer um agrado .

Chegou à casa dela com os quatro abacaxis, todo feliz e disse:

-Olha amor! Comprei sua fruta favorita no supermercado!

Ana sorriu, agradeceu , guardou os abacaxis na geladeira. Suspirou e pensou: Ele nunca perguntou qual é a minha fruta favorita, minha fruta favorita é kiwi.

A Bicicleta de Maria Adelaide Claves Bologna Medeiros.

Existia na pequena cidade de Abacaxi ,Minas Gerais uma menina chamada Maria Adelaide Claves Bologna Silva Medeiros  , menina calma, extremamente calma e paciente , tinha beleza comum, e nada, absolutamente nada, que se destaca- se a não ser sua calma, e talvez seu nome, digamos um pouco extenso.

Maria Adelaide Claves Bologna Silva Medeiros  tinha uma bicicleta .Era de segunda mão e um pouco velha já , o ex-dono vendeu por que não a usava a uns cinco anos ,a bicicleta chegou na casa de Maria com os pneus murchos, o banco da bicicleta faltando um pedaço e com a pintura arranhada , a marca da bicicleta era Mertur , nem ela nem ninguém nunca tinha ouvido falar dessa marca, pelo quem dizia o ex dono era a marca mais barata da loja.

Maria até ficou feliz de ganhar a bicicleta mas queria mesmo era uma nova , da Caloi, com marcha, pintura nova, banco novo, pneu bom . . .Mas os pais só podiam comprar aquela, nesse caso melhor um pássaro na mão que dois voando , esse ,por sinal, era o ditado favorito dela.

No dia seguinte que ganhou a bicicleta ela já queria sair com ela para ir para a escola , para a casa das amigas, para todo lugar , mas deu azar e estava chovendo , naquele diz choveu tanto que as ruas de Abacaxi alagaram, Maria então deixou para o dia seguinte a estreia da sua bicicleta. Infelizmente choveu a semana toda , mas ela não se importou , sabia que uma hora ia parar de chover e ela poderia usar sua bicicleta. Estava certa nisso na semana seguinte  fez sol , toda feliz ela tirou a bicicleta da garagem , lembrou que o pneu estava murcho e foi no posto calibrar. Esperou meia hora para que os frentistas atendessem ela, na hora de calibrar o pneu da frente ficou perfeito, mas o de trás deve um probleminha , o pino havia entrado no pneu, o frentista pegou um alicate ,conseguiu tirar o pino de dentro do pneu e calibrou. Ficaram ótimos os dois.Maria achou que ia explodir de tanta felicidade, depois de três anos enfim tinha sua bicicleta, com os pneus cheios, e podia andar nela por que fazia sol. Andou dois quarteirões e percebeu que alguma coisa estava errada, parou a bicicleta e reparou que o pneu de  trás havia esvaziado novamente , pensou um pouco e lembrou que ali por perto havia um borracheiro. Levou lá, o cara olhou , examinou e disse:

-Maria o problema é na câmara de ar !

Maria então respondeu:

-E você pode olhar para mim isso?

-Não, mas o Zé aqui na rua de trás conserta essas coisas , vai lá menina que você consegue.

Ela levou a bicicleta então para o Zé que confirmou que o problema era com a câmara de ar e disse que trocava, mas Maria ia ter que esperar uns três dias por que  ela tinha muito conserto para fazer e um casamento para ir no dia seguinte. Maria falou que esperava, não tinha pressa.

Voltou lá depois dos três dias a bicicleta estava com o pneu novinho e até que enfi m Maria conseguiu andar nela. Um dia foi para escola com a bicicleta ao sair da aula meio dia e meio não achou sua bicicleta mais : havia sido roubada.