Ela tinha olhos cor de
mel, impossível de esquecer. A primeira vez que a vi, foi na praia. Ela estava
parada, olhando para o mar, seu vestido era azul celeste e feito de um tecido
muito leve, quase transparente. Era um final de tarde e ventava bastante naquele
dia. Eu gostava de sentar na areia e ficar desenhando, e foi nesse dia que a
notei perto de mim. Ela também me viu. Em um momento, virou-se para trás e me
olhou com aqueles olhos cor de mel brilhantes e sorriu. Pensei que ela iria me
cumprimentar, mas simplesmente foi embora, caminhando pela praia.
Dias depois, descobri que
ela morava no mesmo prédio em que eu estava hospedado, na verdade, era minha
vizinha. Tantas coincidências estavam acontecendo, e sempre acreditei que nada
era por acaso. Era um sinal de que algo iria acontecer entre nós, pelo menos eu
tinha certeza disso, mas estava errado, pelo menos em parte.
Na quarta vez que a vi
parada, ela estava na parte de baixo do prédio, fumando. Já a tinha visto
entrando no apartamento com sacolas de supermercado, na praia novamente parada
e saindo do prédio. A última vez foi enquanto eu estava na sacada do meu apartamento.
Nenhuma dessas vezes consegui me aproximar dela, pois tudo acontecia muito
rapidamente. Ela parecia ser uma daquelas pessoas ocupadas que tinham dois
empregos e cuidavam de casa, parecia ser independente e resolvida. No entanto,
em outras ocasiões, especialmente quando a via na praia, parecia à beira das
lágrimas e triste. Era uma tristeza profunda, não temporária, mas aquela que
vinha de dentro de seus olhos. Era a tristeza das pessoas que foram
decepcionadas pela vida muitas vezes, dos depressivos, das pessoas que nunca
foram amadas, das mães que perderam seus filhos. Era uma tristeza palpável,
profunda o suficiente para tocar.
Eu me interessei por ela
por causa de todas essas questões, porque ela parecia indecifrável e, ao mesmo
tempo, fácil de entender. Então, decidi falar com ela. Conversamos, ela era
simpática e tinha um sorriso lindo. Eu contei que estava passando alguns meses
no apartamento que, na verdade, pertencia ao meu irmão, e ela me disse que
estava morando no prédio há apenas alguns meses. Tinha se mudado recentemente
com o marido. Foi um choque, pois nunca a tinha visto com ninguém, nem ouvido
vozes em seu apartamento. Ela não parecia casada. Ela percebeu minha surpresa e
explicou:
-Ele trabalha muito, então nos vemos pouco.
Ela gostava dessa independência e não era do
tipo grudento ou romântico. Estavam juntos há quatorze anos, mas não tinham
filhos, pois ela não quis. No final da conversa, ela disse que precisava subir
para organizar algumas coisas antes de ir para a academia e se foi. Eu a olhei
nos olhos durante toda a conversa, pelo menos tentei, porque em alguns momentos
meus olhos se desviavam enquanto ela falava.
Eu fazia questão de
conversar com ela sempre que nos encontrávamos, e com o tempo, ela também
parecia gostar da minha companhia. Comecei a ir até o apartamento dela à tarde
para tomar café e ouvir música. Às vezes, íamos juntos à praia, e eu desenhava
enquanto ela observava as ondas, perdida em seus pensamentos. Era uma amizade,
embora eu quisesse mais, sabia que estava errado. Em três meses, vi o marido
dela apenas uma vez. Em um dia em que estava na frente do apartamento dela, ele
chegou e nos cumprimentou, explicando que eu era o novo vizinho, e então
entrou. Eu vi a tristeza em seus olhos naquele momento, foi rápido, mas
intenso. Eu teria abraçado, beijado e feito promessas de amor ali mesmo, mas
não era possível. Aflorou em mim um desejo ardente, principalmente agora que
sabia da infelicidade dela em um casamento que aparentemente estava gasto e
carente de amor. Parecia que não era errado desejar, beijar. O marido dela não
era mais do que um acessório em sua casa, como uma mesa ou um vaso. Algo sem importância
para mim e, talvez, para ela.
Eu comecei a deixar
transparecer meu desejo, e ela permitia, até certo ponto. Eu tinha que ser
sutil. Infelizmente, meu tempo ali estava chegando ao fim, e pensei em tentar
estender meu contrato de trabalho, mas isso prejudicaria meus futuros empregos
na cidade onde eu oficialmente morava. Chegou o dia em que eu precisava contar
a ela sobre minha partida. Iria embora em uma semana e precisava avisar.
Estávamos tomando café na casa dela, e o marido estava no escritório
trabalhando em um projeto. Eu disse que iria embora, mas antes, queria dizer
algumas coisas. Ela pegou minha mão e colocou-a sobre seu peito, pedindo para
que eu não dissesse nada, fazendo um sinal de silêncio com a mão sobre os
lábios. Ela me disse:
-Meu coração bate forte perto de você.
Ficamos em silêncio, nos olhando, e
lágrimas escorreram de seus olhos. Ela se levantou em silêncio, enxugou as
lágrimas e me abraçou. Foi tudo o que tive, um abraço forte. Ela me pediu para
me despedir antes de viajar.
Ainda a encontrei mais
uma vez, e fomos à praia. No dia em que parti, bati na porta de seu
apartamento, mas ninguém atendeu. Pelo horário, ela poderia realmente não estar
em casa, mas também poderia estar lá e não querer me ver. Ela já tinha dito
meses atrás que não era boa com despedidas. Conversamos algumas vezes por
mensagem, mas ela era péssima em responder.
Ao chegar à minha cidade,
pintei um quadro com os olhos dela, o quadro mais caro que já fiz. Não quero
vendê-lo, é tudo o que tenho. Embora não sejam os olhos reais dela, são apenas
minha impressão, o que eu vi, o que eu lembro. Imagino se ela ainda está casada
e vai à praia para olhar as ondas, perdida em seus pensamentos. Se em sua
imaginação, ela tem alguém ao seu lado que existe de verdade, não apenas um
fantasma, uma sombra. Começo a pensar em seus olhos e como, apesar de serem
lindos, eles eram cegos. Fico triste por mim, por ela, pelos olhos e por tudo o
que nunca aconteceu, exceto em minha imaginação.